O PS e a Aliança Democrática (AD) criticaram a influência que a campanha dos apoiantes e da família de Jair Bolsonaro, e do próprio ex-presidente brasileiro, em favor do Chega teve sobre os votos dos emigrantes residentes no Brasil. O partido de André Ventura pode eleger dois dos quatro mandatos da emigração.
Corpo do artigo
O desfecho da contagem dos votos dos portugueses que vivem no estrangeiro confirmou a tendência que se verificava desde o primeiro dia do escrutínio da emigração: o Chega elegeu dois deputados, o PS e a AD um cada. Durante os últimos três dias foram escrutinados cerca de 335 mil votos, dos quais quase 40% acabaram por ser anulados devido ao incumprimento de regras de envio, como a ausência da cópia do cartão de cidadão. Na quarta-feira, com a chegada de mais de 13 mil votos de fora da Europa, maioritariamente do Brasil, o processo prolongou-se muito para além da hora prevista. Os resultados finais serão conhecidos na sexta-feira.
Foram os eleitores no Brasil que consolidaram a vantagem do partido de André Ventura sobre os socialistas. Enquanto o processo ainda decorria, em declarações ao JN, Paulo Pisco, agora eleito pelo PS na Europa, relacionou esses votos com o envolvimento da "máquina de campanha de Jair Bolsonaro".
"Há muitos portugueses no Brasil que são pró Bolsonaro, o que acabou por ter uma influência. E isto é muito grave porque todo o sistema em torno de Jair Bolsonaro é um sistema profundamente antidemocrático", alertou Pisco, lembrando a tentativa de assalto às sedes dos poderes em Brasília levada a cabo pelos apoiantes do ex-presidente brasileiro, em janeiro de 2023.
Ao início da tarde, à RTP o socialista sublinhava ainda que chegaram relatos do partido que mostraram ter existido "uma implicação direta dos membros da família Bolsonaro relativamente à mobilização de eleitores para votarem no Chega".
Na Suíça - onde acabaram por votar por correspondência mais de 49 mil eleitores -, o Chega arrecadou 16 226 votos, ou seja, cerca de 32,62%.
Também a AD criticou essa influência no Brasil. À CNN Portugal, José Cesário, cabeça de lista da coligação pelo círculo fora da Europa, acusou "a máquina do partido" do ex-presidente brasileiro de ter feito uma "campanha suja" e "desleal" em favor do Chega. "Mesmo assim, está muito longe de ter tido os efeitos que pretendiam ter e que estavam convencidos que tinham", advertiu o social-democrata.
Para Cesário, esse é um eleitorado que não tem as mesmas razões de protesto do que no resto da Europa - como a Suíça, que deu a vitória ao Chega -, mas é um eleitorado que tem "sofrido muito" com problemas na rede consular e de integração.
José Cesário sublinhou que Bolsonaro têm um "impacto enorme" nas redes sociais, onde foi feito um "apelo sistémico" ao voto no partido liderado por André Ventura. "Durante várias semanas, o próprio ex-presidente Bolsonaro, através de vídeos e da sua estrutura de campanha que tem nas redes sociais um impacto enorme junto a 30 a 40 milhões de brasileiros, fizeram a divulgação sistemática de apelo ao voto no Chega, com notícias e informações falsas de que, por exemplo, o novo presidente de Portugal era André Ventura".
Recorde-se que, conhecidos os resultados de dia 10 de março, Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do ex-presidente brasileiro, saudou, nas redes sociais, a eleição de um dos novos deputados do Chega, Marcus Santos. O deputado luso-brasileiro foi eleito em quarto lugar pela lista do partido do círculo eleitoral de Braga. Mas ainda antes, e durante a campanha eleitoral, Eduardo Bolsonaro fez quase publicações diárias relacionadas com o Chega.
Durante a tarde, André Ventura destacou o “resultado histórico” do seu partido, assumindo que “superou largamente as expectativas”. O líder do Chega agradeceu aos que “partiram procurando um lugar melhor” e que “votaram pela mudança”.