PS junta-se à esquerda para rejeitar medida que há 15 dias o ministro da Saúde admitiu equacionar
O PS juntou-se, esta quarta-feira, à esquerda para rejeitar propostas da Iniciativa Liberal e do PSD que visavam o reforço dos médicos de família e a criação de Unidades de Saúde Familiar do tipo C. Uma medida que, há 15 dias, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, admitiu equacionar.
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Apesar de existirem como uma possibilidade, as Unidades de Saúde Familiar do tipo C (entidades com autonomia organizacional e financeira e com um contrato-programa com as ARS), nunca saíram do papel.
No passado dia 8, contudo, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, admitiu esse modelo como uma possibilidade, durante uma audição nas comissões parlamentares de Orçamento e Finanças e de Saúde, no âmbito da apreciação na especialidade do Orçamento do Estado para 2023.
"Num período transitório em que há falta de médicos de família para resolver o problema de algumas comunidades, eu equaciono a possibilidade (da constituição dessas USF), assumiu Manuel Pizarro, acabando acusado pela esquerda de fomentar a privatização do Serviço Nacional de Saúde.
Esta quarta-feira, o debate ideológico repetiu-se em plenário, com os partidos da esquerda a acenar com a privatização e o centro-direita a defender esse modelo como uma forma de se evitar situações como as vividas, terça-feira, no Hospital Santa Maria (Lisboa), em que os utentes esperaram 14 horas para serem atendidos na Urgência.
"14 horas de espera em Urgências como as do Santa Maria? Ainda me lembro do primeiro-ministro ter dito que estaria tudo resolvido numa segunda-feira. Vemos o PS a ser PS, um rolo compressor desgovernado", atirou a deputada da Iniciativa Liberal (IL), Joana Cordeiro, considerando que tempos de espera como os de terça-feira não ocorreriam se "os portugueses tivessem médico de família".
"Vamos assumir todos: vamos trabalhar com o setor público, com o setor social não lucrativo e com o setor privado lucrativo", exortou, de seguida, a deputada do PSD, Fátima Ramos, acrescentando: "Deixem de colocar a ideologia em primeiro lugar e coloquem as pessoas em primeiro lugar".
As deputadas da IL e do PSD foram imediatamente atacadas pelo líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, que recordou a posição do partido de defender o reforço do serviço público: "As propostas do PSD e da IL vão pela segunda via. Sempre que há um problema no Serviço Nacional de Saúde, a solução é fragilizar para privatizar".
Mas a bancada da maioria absoluta também não escapou às críticas bloquistas. "Curiosamente é o que o PS também está a fazer", afirmou Pedro Filipe Soares, acusando os socialistas de estarem a dar "um presente envenenado aos portugueses".
"As propostas do PSD e da IL são gato escondido com rabo de fora. São a privatização dos cuidados de saúde e isto só resulta pelo facto de o PS estar a abrir a porta para colocar a raposa dentro do galinheiro e destruir os cuidados de saúde primários", concordou o deputado do PCP, João Dias, numa alusão à abertura deixada pelo ministro da Saúde, há 15 dias, no Parlamento.
"Não queremos avançar com essa privatização às postas, pela porta das traseiras, dos cuidados de saúde primários", reforçou o deputado do Livre, Rui Tavares.
Em defesa da IL e do PSD, o líder do Chega contra-atacou o BE, acusando-os de terem "aprovado seis orçamentos da geringonça com a saúde sempre a descer". "Este modelo não funcionou. Parabéns à esquerda e à extrema-esquerda em Portugal", atirou André Ventura.
"Acho que há uma terceira via, que é a via de reforçar o Serviço Nacional de Saúde e que é a via que estamos a fazer", reagiu o secretário de Estado da Saúde, Ricardo Mestre, reafirmando o compromisso do Governo de se atingir os "80% da população com coberturas de Unidades de Saúde Familiar do modelo A e C", quanto atualmente são 65%.
Estava antecipado, assim, o sentido de voto do PS, que rejeitou as propostas do PSD e da IL, associando-se aos votos contra do BE, PCP, PAN e Livre. Já PSD, IL e Chega votaram a favor. Na proposta do PSD, o PAN absteve-se.