Comissão de inquérito à CGD desvalorizou papel do gestor. Banco de Fomento avançará mesmo sem presidente eleito.
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O Partido Socialista (PS) quis fazer uma ligação direta entre Vítor Fernandes e os créditos problemáticos da Caixa Geral de Depósitos, no relatório da segunda comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco público em 2019, mas a menção caiu na versão final do documento, aprovada pelos partidos. Esta semana, o Governo suspendeu a eleição de Vítor Fernandes para o Banco de Fomento e, ontem, Siza Vieira disse que a instituição financeira poderá trabalhar mesmo sem um presidente do conselho de administração.
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O relatório da comissão parlamentar sobre a Caixa Geral de Depósitos afirma que a "maioria das perdas teve origem nos anos do mandato da administração liderada por Santos Ferreira" e que Maldonado Gonelha, Armando Vara e Francisco Bandeira tiveram "intervenção direta nos créditos mais problemáticos".
Na redação proposta pelo PS, porém, havia mais um nome: o de Vítor Fernandes, lembrou Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, à RTP. Ou seja, os socialistas quiseram ligar diretamente os "créditos mais problemáticos" da Caixa ao gestor que, agora, o Governo queria ver na presidência do Banco de Fomento.
O vice-presidente da bancada socialista João Paulo Correia, confirmou ao JN: "O Partido Socialista propôs uma conclusão que associava Carlos Santos Ferreira, Maldonado Gonelha, Armando Vara, Francisco Bandeira e Vítor Fernandes a uma intervenção direta na concessão de créditos problemáticos".
A proposta, porém, não passou no crivo dos restantes partidos e a versão final do relatório transfere Vítor Fernandes para o parágrafo seguinte, onde são elencados os administradores com assento regular no Conselho Alargado de Crédito, mas cuja presença foi dada como uma formalidade: Celeste Cardona, Norberto Rosa, Rodolfo Lavrador e Carlos Costa. "A maioria da comissão de inquérito entendeu que Vítor Fernandes não tinha ligação a créditos problemáticos", disse João Paulo Correia.
"Equipa à prova de bala"
A posição da comissão de inquérito e o facto de, entretanto, Vítor Fernandes ter estado no Novo Banco, nomeado pelo Governo PSD-CDS e aprovado pelo Banco de Portugal, justificaram a sua indigitação para o banco de Fomento, argumentou João Paulo Correia. Mas, perante as notícias da sua ligação a Luís Filipe Vieira, "o Governo fez bem em suspender" a sua nomeação.
É apenas uma suspensão, esclareceu Siza Vieira: "Faz sentido apurar os factos e, pelo menos, confrontar a pessoa em causa com as imputações que lhe são feitas". O ministro da Economia aguarda conclusões do Ministério Público, no caso Cartão Vermelho; do Parlamento, após a audição de Vítor Fernandes, pedida pelo PS; e do Banco de Portugal, que reavaliará a idoneidade do gestor.
Até lá, será eleita uma equipa "à prova de bala" e "sem ligações à atividade política", capaz de gerir o Banco de Fomento, assegurou Siza Vieira, ontem, aos deputados.
Gestão
Núcleo duro com quatro pessoas
Dois homens e duas mulheres compõem o núcleo duro da administração executiva do Banco de Fomento: Beatriz Freitas mantém-se como presidente executiva e Susana Antunes transita do Santander Totta para liderar a área do risco. Rui Dias sairá da Caixa BI para assumir a liderança financeira e Tiago Simões de Almeida deixará o BPI para administrar a área comercial. A equipa não executiva é composta por Carlos Epifânio (ex BES), António Gonçalves (para a comissão de auditoria), Luísa Anacoreta (presidente da comissão de auditoria dos CTT) e Maria do Carmo Ribeiro, da área do imobiliário.
Audição
Gestores chamados
O grupo parlamentar do Partido Social requereu depoimentos escritos de Vítor Fernandes e de António Ramalho, administrador e presidente do Novo Banco. O objetivo é o "cabal e rápido esclarecimento" de suspeitas levantadas pela Operação Cartão Vermelho.
Dúvidas sobre dívida
Os socialistas perguntam se os banqueiros intervieram em operações de reestruturação de dívida do universo empresarial de Vieira e de José António dos Santos (conhecido como o "rei dos frangos"), quer no Novo Banco quer no BCP.