O PSD vai votar contra a proposta de Orçamento do Estado para 2022, anunciou o ainda presidente do partido, Rui Rio, esta quinta-feira. Francisco Pinto Balsemão e Miguel Cadilhe são os nomes para o Conselho de Estado.
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No final da reunião do grupo parlamentar do PSD, Rio justificou o voto contra por considerar que o documento não estimula o crescimento económico e por "quebrar promessas eleitorais" do Governo de aumentar os salários, quando, devido ao aumento da inflação, vão ter "um corte real".
Rui Rio frisou que o Orçamento do Estado tem uma previsão de 4% para a inflação, que diz estar convencido que "vai ser impossível" de cumprir, o que significa que "haverá uma perda de poder de compra de pelo menos 4% todos os meses". "Na prática, em termos reais, ao fim de um ano, de 14 meses, é como se perdessem meio salário, é como se lhe cortassem meio subsídio de Natal. O termo que o PS utiliza para isto é austeridade", disse.
O ainda líder social-democrata indicou que o partido vai voltar a indicar para o Conselho de Estado o militante número um Francisco Pinto Balsemão e, como novidade, o antigo ministro das Finanças Miguel Cadilhe. Rui Rio deixará assim de integrar o órgão de aconselhamento do presidente da República.
Para Rui Rio, trata-se de "uma contradição entre o que o PS prometeu aos portugueses para ganhar as eleições" e que passava quer pelo aumento do Salário Mínimo Nacional quer dos salários médios. "Há aqui uma clara quebra de promessas eleitorais do PS, eu não estou admirado, procurei alertar na campanha, as pessoas acreditaram no que o PS ia fazer, e logo no primeiro meio orçamento já estão a fugir ao que prometeram", criticou.
Questionado se um aumento dos salários neste momento não iria provocar uma espiral inflacionista, como argumenta o Governo, Rio disse que esse debate deveria ter sido feito na campanha eleitoral. "Este Governo claramente prometeu isso para ganhar eleições, não estão em causa princípios económicos, mas promessas para ganhar as eleições", acusou.
O presidente do PSD adiantou que o partido irá fazer propostas de alteração "credíveis" e "sem agravar o défice", respeitando um princípio que ele próprio disse ter instituído quando, em 1996, era o coordenador de Orçamento e Finanças na sua bancada. "Todas as propostas que o PSD fizer têm de lá ter uma contrapartida. Se aumento uma despesa em X, tem de lá a despesa que reduzo", explicou.
À pergunta se fará alguma proposta para aumentar os salários na função pública para lá do previsto pelo Governo, Rio não se comprometeu. "Vamos ver", disse, recordando que, em 1996, o PS, já no Governo, votou contra todas as propostas que tinha feito um ano antes, ainda na oposição. "Não quero que o PSD faça essa figura, têm de ser propostas credíveis", apontou.
O líder social-democrata criticou ainda a proposta orçamental, que será discutida e votada na generalidade na próxima semana, por "não estar vocacionada para o crescimento económico". "O PS e o Governo podem puxar por uma medidazita aqui ou acolá, mas o que precisávamos era de medidas sustentadas neste Orçamento e no tempo", defendeu.
A teimosia do PCP foi longe de mais
Questionado se ficou surpreendido com a decisão da bancada comunista anunciada na quarta-feira de estar ausente da sessão solene com o presidente da Ucrânia, hoje no parlamento, Rui Rio considerou que "a teimosia foi longe de mais".
"Sim, acho que há aqui uma teimosia e vai longe de mais, se já não conseguia entender a posição [do PCP] desde o início, chegar ao extremo de nem sequer estar presente na sessão quando quem fala é quem é invadido e está a sofrer... Não consigo encontrar explicação", disse.
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Questionado se faria sentido uma deslocação do primeiro-ministro ou do presidente da República portugueses a Kiev, como têm feito outros líderes europeus, o presidente do PSD admitiu não ter pensado sobre a questão, preferindo responder em termos genéricos. "Se essas visitas, uma ou outra, tiverem um significado importante no que é a ajuda à Ucrânia, entendo que deve ser equacionado. Se for apenas para tirar uma fotografia sem grande efeito prático, já não tem o mesmo relevo. Excluir não é de excluir, porque devemos estar todos solidários com o que se passa na Ucrânia, que é uma coisa estúpida", afirmou.
Sobre o que espera da intervenção do presidente ucraniano, Rio considerou que "é sempre um momento importante". "Poderá ver a quase unanimidade do parlamento português a apoiar - tirando o PCP - de uma forma política e mais do que sentida a Ucrânia", disse.