Marcelo pede cautela com “narrativas” sobre imigração, Ventura insiste no referendo e solicita audiência. Fiscalidade divide Bloco Central.
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A “rentrée” política traz consigo o reatamento das negociações do Orçamento do Estado (OE), com PSD e PS na expectativa para ver quem cede. À espreita, o Chega, que tinha feito o voto a favor depender da existência de um referendo à imigração, viu ontem o presidente da República avisar que há uma diferença entre a “realidade” e as “narrativas” que se constroem.
Marcelo Rebelo de Sousa reagiu a três tempos à proposta de referendo. Primeiro, em resposta escrita a um jovem da Universidade de Verão do PSD, lembrou que há que “ter presente a diferença entre a realidade e discursos ou narrativas sobre ela”. Vincou ainda que a maioria do milhão de estrangeiros a viver no país é cristã, “de vários credos e igrejas”.
Em resposta, o líder do Chega, André Ventura, defendeu que Marcelo deveria adotar uma atitude de “reserva e cautela” quanto à proposta de referendo. Anunciou também que lhe pediu uma audiência para abordar esta questão.
Marcelo voltou depois à carga: primeiro, no site da Presidência, esclareceu que não disse ser contra o referendo “nem podia” fazê-lo; depois, aos jornalistas, disse não precisar de ser “convencido” por Ventura em audiência, já que os partidos “são livres” de suscitar estas iniciativas.
“Muito difícil” PS resistir
Caso o Chega se afaste das negociações do OE, o primeiro-ministro ficará com o PS como único interlocutor. Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos não cedem, para já, no braço de ferro, com o primeiro a acusar os socialistas de “arranjos” com o Chega e o segundo a insurgir-se contra a “arrogância” do chefe do Executivo.
Há vários temas que continuam a dividi-los. Ao JN, o ex-deputado do PSD, Duarte Pacheco, reconhece que o IRC e o IRS Jovem serão questões “difíceis” de negociar. Paulo Pedroso, antigo ministro do PS, concorda, mas acrescenta o “entendimento sobre o papel do serviço público” - que considera “decisivo” - e o “referencial” para a subida do salário mínimo.
Pacheco e Pedroso concordam que o Chega é o partido que mais teme ir a eleições, já que, como se viu nas europeias, “muito provavelmente” perderia votos para o PSD. Pacheco diz que o Chega se tem afastado de ser solução no OE, dando como exemplo uma proposta de referendo que “não lembra ao diabo”. Pedroso entende que Ventura procura “subir o preço” do seu voto a favor.
Pacheco diz que Pedro Nuno ganhará “credibilidade” se viabilizar o OE e avisa que, em caso de chumbo, “o país pára”. Pedroso crê que o Governo escolherá em breve o parceiro preferencial; se for o PS, será “muito difícil” o partido chumbar o OE.