O PSD manteve-se em silêncio, esta quarta-feira, sobre se irá ou não aprovar a criação de uma comissão parlamentar de inquérito, proposta pelo Chega. O objetivo do partido de André Ventura é apurar se, em 2016, António Costa considerou "inoportuno" o afastamento de Isabel dos Santos do Banco BIC, pressionando o Banco de Portugal (BdP) para que não o fizesse. O primeiro-ministro voltou a garantir que vai processar o ex-governador do BdP, Carlos Costa, acusando-o de ter montado uma "operação política de ataque" ao seu caráter no livro que agora publicou. O presidente da República procurou colocar alguma água na fervura.
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André Ventura, do Chega, continua à espera de saber se o PSD apoia a intenção de criar uma comissão de inquérito. Contactadas pelo JN, fontes oficiais sociais-democratas ficaram em silêncio sobre a matéria, sendo que a IL também não respondeu.
Esta quarta-feira, o líder laranja, Luís Montenegro, irá participar na Assembleia Política do Partido Popular Europeu (PPE), em Lisboa, sendo de esperar que seja confrontado com a questão. O PSD, recorde-se, é peça-chave para que a comissão parlamentar de inquérito se realize, uma vez que é necessária a validação de, pelo menos, 46 deputados (um quinto do total) e o Chega tem apenas 12.
mentiras e deturpações
Esta quarta-feira, António Costa descreveu o livro de Carlos Costa como "uma operação política de ataque" ao seu caráter. Perante tal "conjunto de mentiras, meias-verdades e deturpações", disse estar "no direito" de se defender em tribunal. Na obra "O Governador", Carlos Costa acusou o primeiro-ministro de o ter pressionado a não afastar Isabel dos Santos do Banco BIC.
Outra das críticas tem a ver com a resolução do Banif. Recorde-se que na apresentação do livro, na terça-feira, o comentador e antigo líder do PSD, Marques Mendes, exortou o Ministério Público a investigar. Nessa ocasião, o social-democrata desafiou o Ministério Público a "ler os capítulos do livro que têm a ver com o Banif", argumentando que estes denunciam "um caso típico de abuso de poder e favorecimento de uma sociedade".
No livro, Carlos Costa acusou o chefe do Governo de ter enviado a Bruxelas uma carta sobre o Banif sem o seu conhecimento, garantindo só ter sido informado da existência da missiva "através do BCE".
Esta quarta-feira, o gabinete de António Costa divulgou um comunicado do BdP, de 2015, em que o banco garantia que a resolução do Banif era a solução indicada para garantir as poupanças e dar "estabilidade" ao sistema financeiro.
O presidente da República assegurou que a retirada de poder a Isabel dos Santos, proposta pelo Governo, garantiu a defesa do "interesse nacional". Marcelo Rebelo de Sousa vincou que a responsabilidade pelo afastamento da empresária está repartida entre o Governo, ele próprio, o BdP e o Banco Central Europeu. Uma vez que estas duas últimas instituições "não tinham solução" para o caso, o Governo interveio e ele próprio promulgou, explicou o chefe de Estado.
Centeno acusa ex-governador de "reescrever a História"
Mário Centeno, antigo ministro das Finanças e atual governador do BdP, acusou o seu antecessor - sem o nomear - de ter o "velho hábito" de "reescrever a História". No livro, Carlos Costa acusou Centeno de ter recorrido a "pressão psicológica", em conluio com o BE, para o afastar de funções. Em 2020, tinha dito que o então ministro das Finanças tinha "todas as condições para ser um grande governador"