Uma pulseira faz com que os mosquitos confundam humanos com plantas. A tecnologia, desenvolvida por Filipa Fernandes, diretora de inovação da Ooze Nanotech, empresa sediada em Vila Verde, previne as picadas de insetos associadas a doenças como a malária, o dengue ou o zika.
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Ao longo dos últimos cinco anos, já foram distribuídas mais de 20 mil destas pulseiras, nomeadamente em regiões tropicais e subtropicais, "com grande sucesso". A pulseira já está a venda em Portugal, em farmácias e online, por cinco euros, apresenta-se em várias cores e tamanhos e tem uma duração assegurada de um mês.
O conceito assenta na libertação de um perfume de plantas, a partir da cera que é inserida no silicone durante o fabrico. O aroma confunde os insetos e leva-os a julgar que somos plantas. Por isso, mesmo que pousem não picam. As extratos usados são de citronela, de neem e de lavanda. "A combinação que melhores provas deu para confundir os mosquitos das espécies Anopheles e Aedes, responsáveis pela transmissão da malária, zika, dengue, febre amarela e chicungunha", explica Filipa Fernandes.
Em contexto real, "que é o que interessa à Organização Mundial de Saúde (OMS), nestes casos", os testes, no Ceará, no Brasil, "tiveram bons resultados, com diversos relatos muitos positivos", assegura a investigadora. "Não se trata de um medicamento, mas previne a propagação das doenças e, no longo prazo, pode ajudar a erradicá-las", clarifica. "A malária mata uma criança a cada 30 segundos", lembra Filipa Fernandes. As pulseiras vão ser testadas, agora, no Burkina Faso, sob supervisão do Vector Control Advisory Group, da OMS, e espera obter financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates.
A atual combinação de fragrâncias não é eficaz para camuflar os seres humanos contra o Culex, o mosquito que transmite a febre do Nilo. "Esta e outras espécies aparecem cada vez mais para norte, por causa das alterações climáticas. O Culex já existe na Comporta. O nosso próximo desafio é encontrar a composição que afasta este mosquito. Ainda não sabemos se será inserida nesta pulseira ou se teremos de criar uma segunda", avança Filipa Fernandes.
A investigadora, de 37 anos, mestrada em Engenharia de Materiais, foi capitã da equipa de futsal da Universidade do Minho. Foi campeã nacional e vice-campeã da Europa e já esteve ligada a outros projetos bem-sucedidos, como a t-shirt que reduz os efeitos negativos da menopausa ou os asfaltos com capacidade de se limparem por reações químicas ou de mudarem de cor quando se forma gelo. Para Filipa Fernandes, a tecnologia usada nas pulseiras "está apenas a dar o seu primeiro passo e permitirá fazer muitas mais coisas".