São vítimas de acidentes de viação, jovens, muito jovens, que viram o mundo fugir-lhes dos pés num instante de alcatrão que não tem volta atrás - e numa idade em que os sonhos ainda pareciam todos possíveis. Amputados, paraplégicos, tetraplégicos.
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Têm histórias esmagadoras e encontraram força sobrenatural para resistirem ao pesadelo. A sinistralidade rodoviária continua alta, demasiado alta, no nosso país.
Passou-se o Natal, passou-se o Ano Novo e Micael Paiva nem deu por isso. Acordou, ouviu uma médica explicar-lhe que era 2 de janeiro de 2023, estava no hospital, em Coimbra, enfiado numa cama atordoado. Não podia ser, pensou, ainda ontem era dia 19 de dezembro. E a memória daqueles segundos que haveriam de lhe mudar a vida ainda a carrega inteira, nítida, crua. Tinha saído de casa, em Romariz, Santa Maria da Feira, a caminho da Universidade de Aveiro. Estava a conduzir o carro do pai na autoestrada. “Um senhor ultrapassou-me, meteu-se à minha frente e fez uma travagem brusca.” A tentar desviar-se, despistou-se, enfaixou-se no separador central e aguentou-se acordado até ser socorrido. Sabia o que lhe tinha acontecido. “Mas depois estive em coma induzido quase um mês, para mim era dia 20 de dezembro quando acordei, mas não era.”