Estudo mostra queda mais acentuada em período de crise. Em Portugal taxa caiu mais em período expansivo.
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Cruzando os dados do Produto Interno Bruto (PIB) de 15 países europeus, e sua respetiva evolução, com a taxa de mortalidade, um estudo agora publicado na "Nature Communications" conclui que, durante a recessão de 2008, a mortalidade na Europa caiu a um ritmo mais acelerado. Havendo, no entanto, países onde aquela taxa recuou mais em períodos expansivos. Como foi o caso de Portugal.
Liderado pelo investigador espanhol Joan Ballester, do centre ISGlobal, a análise conclui que "os países e regiões com maior desaceleração económica foram também aqueles onde a mortalidade mais desceu". De acordo com o referido estudo, a quebra maior foi verificada durante o período recessivo de 2008 em quase metade dos 15 países analisados, nomeadamente Dinamarca, Espanha, Croácia, Luxemburgo, Polónia e Eslovénia.
Períodos expansivos
Em sentido inverso, em Portugal, Áustria, Bélgica, República Checa, Alemanha, França, Itália, Holanda e Reino Unido os óbitos recuaram mais em período expansivo. Vejamos. Em Espanha, em 2010 face a 2007 o PIB caiu 1,8% ao ano. Se antes da recessão a mortalidade caía a um ritmo de 2% ao ano, "o impacto da recessão foi profundo, de modo a que passou a reduzir-se a 3% ao ano", explica Joan Ballester. Já por cá, a mortalidade passou de uma quebra de 2,3% ao ano para 1,8% no período recessivo, altura em que o PIB caía 0,4% ao ano.
São várias as explicações avançadas pelos autores do estudo "Efeito da grande recessão nas tendências regionais de mortalidade na Europa" para esta evolução procíclica. "Os períodos de recessão macroeconómica estão associados a menos poluição, bem como a menos acidentes laborais e rodoviários", explica o investigador do ISGlobal. Que soma o "menor consumo de álcool e tabaco, tal como uma redução no sedentarismo e na obesidade".
Claro que, notam os autores, estamos a falar de impactos a curto prazo, provados que estão os impactos da crise na saúde e bem-estar dos cidadãos a médio e longo prazo. Joan Ballester avisa, também, que não devem tomar as "recessões como fatores desejáveis para impulsionar o aumento da esperança média de vida". Antes, sublinha, "conseguir que os períodos de expansão económica sejam compatíveis com uma melhor qualidade do ar, menos acidentes e melhores hábitos de vida".