Dados do IMT revelam que, até 1 de outubro, 4 723 esperavam há mais de três meses pela marcação da prova. Associações dizem que faltam examinadores.
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Até 1 de outubro, o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) tinha registo de 15 214 exames pendentes pedidos pelas escolas de condução, alunos autopropostos (renovações) e para reconhecimento de títulos estrangeiros. A maioria (12 881) são exames de condução e, de acordo com a estatística divulgada no site do IMT, há quem esteja à espera meses e até anos: 4723 aguardam há mais de três meses, 105 há mais de quatro anos. A culpa, garantem Automóvel Clube de Portugal (ACP) e Associação Portuguesa de Escolas de Condução (APEC), é da "falta brutal" de examinadores e de instrutores.
O IMT confirma os atrasos nos exames teóricos e práticos, tanto nos seus centros como nos privados, que em parte resultam das medidas aplicadas durante a pandemia. Em concelhos onde a oferta de centros é reduzida ou exclusiva do IMT, "verifica-se um constrangimento adicional da capacidade de oferta", assume o IMT. Para reduzir a espera, explica o instituto na resposta enviada por escrito ao JN, têm sido reforçadas equipas locais com a deslocalização de examinadores de outros distritos e estão a ser formados novos profissionais.
A média de examinadores "a tempo inteiro ou parcial" no IMT é de 45, estando o instituto a recrutar para aumentar a equipa a partir de janeiro.
Escolas "por um fio"
"É uma loucura. Não faz sentido nenhum", começa por defender Carlos Barbosa. O presidente do ACP assume que há quem desespere para fazer exame e tirar a carta. Durante os confinamentos ditados pela pandemia, "muitos" instrutores abandonaram a profissão e dedicaram-se a outras atividade, "houve também quem mudasse para os TVDE por ganharem mais".
O ACP, "que está sempre a recrutar", tem 13 ou 14 examinadores, mas precisaria de, pelo menos, mais sete para dar resposta aos pedidos de renovação, exames e aulas, explica Carlos Barbosa. "Contando com a renovação de cartas, passamos cerca de 28 mil títulos por ano", estima, referindo que a procura aumentou com mais pedidos de renovação por causa da idade e de títulos estrangeiros.
Já o presidente da APEC considera que mais do que falta de examinadores nos centros de exames, o problema está na falta de instrutores nas escolas. Ricardo Vieira garante não ter registo de atrasos na marcação dos exames. "Na pandemia chegámos a demorar dois, três meses, mas agora são duas ou três semanas", assegura, atribuindo o número de provas pendentes no IMT à falta de instrutores nas escolas que não conseguem dar vazão à formação dos instruendos.
Ricardo Vieira garante desconhecer casos de falência mas revela que há escolas "por um fio", onde já só trabalham os "donos, sem funcionários". Tal como Carlos Barbosa, refere que muitos profissionais abandonaram a profissão nos últimos anos. "Desconfio que devido a más condições. Muitos ganhavam mal, por vezes pouco acima do salário mínimo. Com os confinamentos procuraram alternativas e agora não querem voltar", defende.
"Há escolas que nos ligam aflitas à procura de instrutores" uma vez que a APEC dá cursos de formação para examinadores e novos instrutores. A associação, explica, tem aberto cerca de um curso de dois em dois meses, 20 alunos por turma e já disponibiliza aulas online para abranger mais candidatos. Não têm ficado vazios, mas o problema é que "muitos já vêm tirar o curso sinalizados por determinadas escolas e nunca sobram. Há muita falta".
Porto é o distrito com mais provas pendentes
De acordo com os dados estatísticos divulgados no site do IMT, o distrito do Porto é o que tem mais provas pendentes no Continente. Até 1 de outubro, eram 2261, a maioria (2129) exames práticos de condução. A maior parte dos alunos (1815) espera até três meses mas 422 aguardam entre 100 a 399 dias. Em Lisboa, havia registo de 1791 exames pendentes (1682 de condução), sendo que mais de mil alunos aguardam há mais de três meses. Faro, Viana do Castelo, Santarém e Beja são os outros distritos com mais provas pendentes - respetivamente 1372, 1291, 1053 e 1076. No caso de Santarém e Beja, a maioria dos alunos aguarda há mais de dois meses.
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Tendência crescente
De acordo com os dados do IMT, o número de provas pendentes tem vindo a aumentar desde 2016, quando ficaram por fazer 24 exames e foram realizados 137 108. No ano passado, ficaram pendentes 1 192 provas e foram efetuadas 102 100.
15 214 à espera de prova de condução (12881) e de código (2333). Do total que aguarda por prova, 6697 esperam por marcação há menos de 49 dias e 3884 entre 50 e 99 dias.