Quase 70% dos horários por preencher nas escolas são em Lisboa, Faro e Setúbal
Só há 31 docentes por colocar a Informática para mais de 400 lugares ainda vagos no país. Diretores pedem soluções ao Governo.
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Os distritos de Lisboa (40,5%), Setúbal (18,3%) e Faro (10,2%) são os que têm mais horários por atribuir nas escolas, uma semana após o início das aulas. Na quarta-feira, em contratação de escola, estavam por preencher 1848 horários (457 completos e 206 entre 18 a 21 horas letivas). A Federação Nacional de Professores (Fenprof) estima em mais de 100 mil os alunos que ainda não terão professores a todas as disciplinas. Na sexta-feira são divulgadas as colocações na quarta reserva de recrutamento nacional. Desde 1 de setembro já foram colocados cerca de 11 mil docentes.
Fenprof e diretores garantem que a falta de professores é uma bomba relógio tendo em conta as previsões de aposentações e a quebra nas candidaturas aos cursos de ensino. Por isso, alertam, as dificuldades de preenchimento de horários e de substituições durante o ano letivo sentem-se cada vez mais cedo, em mais disciplinas e distritos.
"Que há falta de professores, poucos nas listas por colocar e que o problema se está a agudizar é público e notório. É preciso fazer alguma coisa com urgência ou, daqui a meia dúzia de anos, teremos um problema seríssimo não só em Lisboa", frisa o presidente da associação de dirigentes escolares (ANDE), Manuel Pereira.
Licenciados a dar aulas
Dos 1848 horários em contratação de escola, 1661 eram superiores a oito horas letivas, o que significa, explica o dirigente da Fenprof Vítor Godinho, que não foram preenchidos nas reservas de recrutamento nacionais por ausência de candidatos ou por terem sido recusados. Informática é dos grupos mais carentes: tinha 402 horários por preencher em contratação de escola, sendo 218 completos e 181 só em Lisboa. Só o distrito de Vila Real não tinha falta de professores neste grupo na quarta-feira.
O maior problema, frisam diretores e também a presidente da associação de professores de Informática, Fernanda Ledesma, é que há uma semana estavam por colocar apenas 31 docentes. Na contratação de escola, não é obrigatório, como nas reservas nacionais, os candidatos terem profissionalização (mestrado em ensino e estágio). Assim, muitos lugares são ocupados por licenciados com "habilitação suficiente".
O grupo de Informática, explica Fernanda Ledesma, perdeu cerca de 40% dos docentes entre 2010 e 2016 devido a medidas como a redução das horas a Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) ou o aumento do número de alunos por turma. A diminuição foi ao nível dos contratados, tendo apenas "alguns" regressado ao ensino.
Há outros grupos carentes: Geografia, por exemplo, tinha 132 horários por preencher e 176 professores na lista por colocar. Em História estavam há uma semana pouco mais de 300 professores por colocar; em Filosofia menos de 200; em Física e Química cerca de 450 e em Economia 88.
No agrupamento de Benfica (Lisboa) estão dez horários por preencher, aponta a diretora Rosário Alves, assumindo que esse número seria maior não fosse ter conseguido completar o horário de alguns contratados, já permitido pelo Ministério. Este ano, nem houve separação das turmas na transição do ciclo. Os alunos, explica a diretora, já foram bastante penalizados com a pandemia e a falta de professores no ano passado. Por isso, a aposta do plano de recuperação é reforçar os apoios às turmas mais prejudicadas No entanto, "sem recursos não é possível concretizar", admite.
O JN confrontou a tutela com os horários por preencher em contratação de escola, o número de horas extraordinárias pedidas pelos diretores e de recusas de horários mas não recebeu resposta até ao fecho da edição.