A esmagadora maioria dos professores (86,4%) que responderam a um inquérito da Federação Nacional de Educação (FNE) não incentivam os jovens a seguir a carreira docente. A quase totalidade (96,7%) queixa-se que a sua remuneração não está ao nível das qualificações que lhes são exigidas.
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Os resultados da consulta lançada pela FNE, um mês após o arranque das aulas, foram divulgados esta quinta-feira. O questionário online foi respondido por 2154 educadores e professores do ensino Básico e Secundário de todo o país.
Até 2030, recorde-se, vão aposentar-se 40% dos professores do ensino Básico e Secundário - cerca de 47500 de acordo com o diagnóstico feito pela Nova SBE a pedido do Governo, pelo que o sistema vai precisar de 34500 novos docentes até final da década e que as instituições de Ensino Superior dupliquem o número de diplomados.
Um dia após o debate no Parlamento do Orçamento do Estado para a Educação, em 2023, a consulta feita pela FNE confirma o "descontentamento" da classe: 56,5% dos inquiridos afirmam que as suas expetativas de carreira são "dececionantes" e 39,7% "pouco atrativas". A maioria, no entanto, diz sentir-se realizado. Mas a esmagadora maioria (86,4%) responde que não incentivaria um jovem a ingressar na carreira.
A FNE, recorde-se, defende que a atratividade da carreira só será conseguida através de medidas que a valorizem como aumentos salariais, o fim das vagas de acesso aos 5.º e 7.º escalões, que limitam as progressões, ou apoios para a deslocação a quem fica colocado longe de casa.
Um quinto faz mais de 60 quilómetros por dia para dar aulas
A maioria (61%) faz menos de 30 quilómetros diários para ir dar aulas mas, 13% dos professores que responderam ao inquérito garantiram que percorrem, por dia, mais de 90 quilómetros e 8% entre 61 e 90 quilómetros para irem dar aulas. Quase 10% dos docentes afirmaram que aceitar a colocação os obrigou a pagar uma segunda residência.
O custo das deslocações, em transportes ou segunda habitação, é um dos principais motivos invocados pelos docentes para recusarem colocações longe de casa, especialmente nas regiões onde o preço das casas é mais elevado: Lisboa e Vale do Tejo, Setúbal e Algarve, precisamente as zonas com mais falta de professores.
De acordo com os resultados do questionário, para 63% dos inquiridos a segunda residência situa-se a mais de 90 quilómetros das suas casas e 13% fazem deslocações diárias superiores a uma hora para irem para a escola.
O excesso de burocracia volta a ser uma das principais preocupações apontadas pelos docentes: 48,9% responderam que "nem todas as tarefas que lhes são atribuídas se justificam", identificando, especialmente os professores de 1.º ciclo, o excesso de burocracia e o trabalho administrativo. Numa primeira consulta da FNE, este alerta já foi colocado, tendo o ministério da Educação anunciado a avaliação às tarefas e ao tempo dispendido pelos professores em cada uma das atividades.