Quase dois em cada 10 inquiridos em estudo foi vítima de assédio sexual no trabalho
Quase duas em cada 10 de 824 pessoas entrevistadas para um barómetro da APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) admitiu ter sido vítima de assédio sexual no local de trabalho. Mas a maioria não denunciou.
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Segundo o Barómetro APAV/Intercampus sobre "Perceção da População sobre assédio sexual no local de trabalho", existe "uma elevada consciência relativamente às situações consideradas como assédio sexual", já que "mais de 80% dos inquiridos identifica a quase totalidade das situações expostas como assédio sexual".
Entre as 824 entrevistas online, feitas para o estudo em dezembro do ano passado, 18% admitiu ter sido vítima de pelo menos uma situação de assédio sexual no local de trabalho. A maioria são mulheres (88%), sobretudo com idades entre os 18 e os 54 anos (80%).
Entre as 148 pessoas que afirmaram terem sido vítimas, 54,7% disseram que a agressão partiu de um superior hierárquico, enquanto 45,3% afirmaram terem sido assediadas por um colega.
Os olhares insinuantes foram a forma de assédio mais destacada (63,5%), seguido de "perguntas intrusivas e ofensivas acerca da minha vida" (57,4%), "convites para encontros indesejados" (56,8%), "contactos físicos não desejados" (56,1%), piadas ou comentários ofensivos de caráter sexual" (46,6%), piadas ou comentários sobre o aspeto da vítima (43,2%), piadas ou comentários sobre o corpo (43,2%) ou "propostas explícitas e indesejadas de caráter sexual" (39,9%). Em 6,8% dos casos houve lugar a agressão ou tentativa de agressão sexual.
No que diz respeito à denúncia, 73% disseram não ter feito queixa e apresentaram como principal justificação (46,3%) o facto de não terem provas, havendo quem afirmasse ter tido vergonha (36,1%), receio de que a situação fosse desvalorizada (34,3%), receio de represálias (33,3%) ou simplesmente não acreditasse que a situação se resolvesse por essa via (31,5%).
Houve também 11,1% dos casos em que a vítima se sentiu culpada pela situação e outros 5,6% em que afirmou ter sido desencorajada de apresentar queixa.
Relativamente aos 27% de pessoas que apresentaram queixa, 55% fizeram-no junto da entidade patronal, mas houve também quem o fizesse junto da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), da APAV, do Ministério Público ou dos órgãos de polícia criminal.
E se 62,5% afirmaram ter ficado satisfeitos com a consequência da denúncia, em 32,5% dos casos a vítima disse ter sofrido represálias, nomeadamente despedimento, com 22,5% das vítimas a referirem terem-se arrependido de ter feito queixa.
Entre as 40 pessoas que fizeram queixa, a maioria (80%) admitiu ter tido o apoio de colegas de trabalho ou das próprias chefias, enquanto 50% precisaram de apoio médico.
O estudo da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), que é apresentado esta terça-feira, revela ainda que 35,9% dos inquiridos conhece alguém que foi vítima de assédio sexual no local de trabalho.
"Cerca de 80% consideram mais provável que uma mulher seja vítima de assédio sexual no local de trabalho e mais de metade consideram mais provável que as vítimas sejam de grupos etários mais jovens. Do total de inquiridos, 20% acham provável poder sofrer uma situação de assédio sexual no local de trabalho", refere a APAV.
Por outro lado, "mais de 60% dos inquiridos consideram que o assédio sexual é difícil de ser provado, difícil de ser punido, e, talvez por consequência, pouco denunciado". Isto embora, o assédio seja visto por uma larga maioria dos entrevistados como uso abusivo de poder, ao mesmo tempo que "é largamente reconhecido que não é apenas praticado pelos superiores hierárquicos".