Tumores malignos da mama e próstata com sobrevida acima dos 90%, cólon e reto nos 67% e pulmão nos 25%. Taxa desce com o aumento da idade, revela relatório do Registo Oncológico Nacional.
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A primeira radiografia à taxa de sobrevivência dos doentes oncológicos em Portugal mostra que quase dois terços resistiram à doença cinco anos após o diagnóstico. Com resultados melhores nas mulheres, o que pode ser explicado por uma maior prevalência de cancro do pulmão nos homens, tumor cuja sobrevida se fica pelos 25%. Mais de nove em cada dez doentes com cancro da mama e próstata sobreviveram ao fim de cincos anos. Revelando os números do Registo Oncológico Nacional (RON) assimetrias regionais, com o Centro a registar a taxa mais alta.
Para esta análise foram considerados 51.704 doentes com 15 ou mais anos diagnosticados em 2018, num total de 52.953 tumores malignos invasivos. Apurando-se, em 2023, uma taxa de sobrevivência de 65% a cinco anos (80,5% no 1.º ano), sendo de 71% (84,6% a um ano) nas mulheres e de 60% nos homens (77,1% a um ano). Na medida em que, explica ao JN a coordenadora do RON, “os tipos de cancro mais comuns em mulheres apresentam maior sobrevivência do que os cancros mais comuns nos homens”.
Com impactos diretos do cancro do pulmão na ponderação. Dos 5012 casos diagnosticados, os homens responderam por 72%, apurando-se uma taxa de sobrevivência global de apenas 25,2% – 21% nos homens e 36,2% nas mulheres. Analisando alguns dos tumores com mais casos, mama (8178) e próstata (6910) apresentaram taxas de 90,4% e 96%, respetivamente. Já somando os tumores de cólon e reto, num total de 8.228 casos, a taxa fixou-se nos 66,7%.
Diferenças entre regiões
Uma leitura mais fina aos dados por regiões confirma desigualdades no país, mas a informação tem que ser lida com cautela face à diferença do número absoluto de diagnósticos e ao efeito do envelhecimento da população. “Os residentes nas regiões Centro [10.835 casos], Norte [18.673] e Área Metropolitana de Lisboa [16.040] obtiveram as melhores sobrevivências aos cinco anos (66%), enquanto a Região Autónoma da Madeira [1.252] apresentou globalmente pior resultado (60%)”, adianta Maria José Bento.
Por outro lado, se tida em conta a diferente distribuição etária das regiões (taxa padronizada) “é na região Centro que se encontra a sobrevivência aos cinco anos mais elevada (67%) e na Região Autónoma dos Açores a mais baixa (57%)”. Já uma leitura à sobrevivência por grupos etários mostra que a mesma desce à medida que a idade avança: 54,1% nos maiores de 75 anos contra 72,8% na faixa 45-54.
Analisando, por sua vez, as taxas de sobrevivência nos cancros abrangidos por rastreio de base populacional, na mama e no cólon e reto não se verificam grandes oscilações apesar das diferentes coberturas no território. Na mama, Alentejo e Algarve (com 578 e 347 casos) apresentam as taxas mais baixas - 87,6% e 87,3%, respetivamente -, contra 92% no Norte. Já no cólon e reto , no Continente oscilam entre os 69% no Norte (2.659 casos) e os 61,2% no Algarve (369). Situação diferente regista-se no colo do útero: 70,3% no Norte (157 casos) para 47,8% no Algarve (29).
A coordenadora do RON destaca o facto de Portugal “estar alinhado com a sobrevivência que tinha sido” apurada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico para a União Europeia. “Até tínhamos taxas mais altas e agora confirmámos que são altas. Estaremos no caminho certo com possibilidade para melhorar”. Números que, diz Maria José Bento, “terão que ser avaliados à luz da rede de referenciação oncológica”.