Sondagem da Pitagórica para o JN e TSF mostra que 44% já fazem teletrabalho. Mas há diferenças substanciais, consoante o rendimento e até a região do país.
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Quase metade dos portugueses (44%) está a trabalhar em casa. É um dos sinais da drástica mudança de hábitos provocada pela pandemia de Covid-19. Alterações que se prolongarão no tempo, a julgar por outra resposta a uma sondagem da Pitagórica para o JN e a TSF: a esmagadora maioria dos portugueses (75%) pensa que a situação vai piorar no próximo mês. E acrescenta uma nota de profundo pessimismo: o Serviço Nacional de Saúde não vai aguentar (72%) o que aí vem já no mês de abril.
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A emergência sanitária impôs mudanças e estimulou a adoção de medidas inusitadas. Mas não afetou todos por igual. Há diferenças, às vezes substanciais, consoante os escalões de rendimento, a faixa etária, e até a região onde se vive ou trabalha. Um dos exemplos mais gritantes desse desequilíbrio é o chamado teletrabalho.
Em média, 44% já o estão a fazer a partir de casa. Mas essa média esconde flagrantes desequilíbrios. Na verdade, quanto maior é o rendimento, maior é a percentagem de pessoas que usam a sua residência para trabalhar. Entre os que estão no fundo da escala, são apenas 23%; no extremo oposto são 68%: uma diferença de 45 pontos percentuais.
A diferença é igualmente substancial quando se tem em conta a região onde trabalham ou vivem os inquiridos. Lisboa é claramente um caso à parte no país, com 55% da população a trabalhar a partir de casa. Em todas as outras regiões do país, seja pela dependência da força industrial (Grande Porto, Norte e Centro), seja pela forte dependência do Turismo (Sul), a proporção dos que puderam optar pelo teletrabalho baixa para os 40 pontos percentuais.
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Transportes públicos
Outra das medidas de maior impacto tem a ver com o uso dos transportes públicos: 76% dos portugueses deixou de o fazer. Mas essa mudança teve mais impacto entre os que têm melhores rendimentos (80%) do que entre os mais pobres (63%); em Lisboa (83%) do que nas outras regiões do país; e nos quem têm entre 25 e 34 anos (85%) do que na população com 65 ou mais anos (68%).
Destaque ainda para a corrida à compra de produtos desinfetantes (55%) e para o esforço de abastecer as despensas com produtos alimentares (50%). Sendo que esta última medida de emergência revela também grande desigualdade: entre os dois escalões de rendimento mais baixos apenas 41% o puderam fazer; na metade com melhores salários a percentagem sobe para 54% e 61%. Salta também à vista que os mais velhos ficaram para trás na corrida aos supermercados: apenas 36% da população de 65 ou mais anos pode preparar-se para dias de incerteza.
Pessimismo
E são de facto dias de incerteza os que se vivem e os que se aproximam, a julgar pelas respostas dos portugueses. Quase dois terços (62%) acreditam que o novo coronavírus é pior do que aquilo que se tem dito e escrito. São ainda mais (75%) os que vaticinam que as coisas vão piorar.
A agravar o pessimismo, a crença de que o país está pouco ou nada preparado para o combate (80%) e que o Serviço Nacional de Saúde não terá capacidade para aguentar o número de casos com que vai ser confrontado no próximo mês (72%).
Uma previsão catastrofista que contrasta com o que os portugueses acham que lhes pode acontecer a si e aos seus familiares: 41% respondem que é pouco ou nada provável ficar doente com a Covid-19. Outros 41% que é provável. Mas só 10% acham que é muito provável ou certo ser afetados pela pandemia.
95%
A esmagadora maioria dos portugueses diz que teria como poder ficar de quarentena em casa, se a necessidade se colocar. A única diferença significativa está nas respostas dos mais ricos (99%) face aos mais pobres (90%).
40%
São 40% os portugueses que compraram máscaras para se protegerem. Mas apenas 17% as usam em locais públicos.
30%
Menos de um terço foi obrigado a desmarcar viagens ou férias. Sem surpresa, são sobretudo os mais ricos (46%).