O novo coronavírus afeta mais a população mais pobre, ao nível da exposição ao risco, mas também na mortalidade e no desemprego.
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A conclusão é de um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), da Universidade de Lisboa, que revela que é nos concelhos onde existe maior densidade populacional que há maior incidência de casos.
O vírus era conhecido por ser democrático, mas a investigação que analisou as desigualdades da covid-19 concluiu que ele afeta sobretudo a população com um nível socioeconómico mais baixo. Segundo Joana Alves, investigadora da ENSP, as desigualdades surgem em fases distintas: na infeção, no diagnóstico e nas suas consequências.
"Pessoas com maior privação ao nível socioeconómico vivem em casas mais sobrelotadas e com menos condições de habitabilidade. Dependem da utilização do transporte público para se deslocar e não se podem resguardar tão bem pelo tipo de profissões que desempenham, porque não as podem desempenhar em teletrabalho, estando mais expostas ao risco", explica.
A estas juntam-se as que vivem em lares de idosos ou prisões, confinadas em espaços partilhados.
O estudo revela que os concelhos com menor taxa de desemprego e maior média de rendimento são os que têm menos casos de infeção. A par disto, a literacia também pesa. "Influencia no acesso à informação e na sua interpretação. Torna-se mais difícil compreender o risco ou como se devem proteger", diz a investigadora, que acrescenta que o acesso aos cuidados de saúde também é desigual, o que tem impacto nos diagnósticos.
têm mais doenças
"É ainda expectável que sejam as classes socioeconómicas mais baixas a ter maior mortalidade, porque têm mais doenças associadas". Os mais vulneráveis são ainda os mais afetados a nível económico. Os dados do Opinião Social, questionário do Barómetro Covid-19 lançado pela ENSP, que acompanha a perceção dos portugueses, revelam que o desemprego e as perdas salariais são maiores para os mais pobres.
"Os agregados familiares não estão a suportar de forma igual as consequências económicas. Os que têm menores níveis de rendimento são os que sofreram as maiores perdas, o que nos chocou bastante", afirma Joana. Uma em cada quatro pessoas cujo agregado familiar ganhava até 650 euros perdeu totalmente o seu rendimento. O mesmo só aconteceu em 6% dos agregados que ganham mais de 2500 euros. "A evidência parece confirmar que a infeção é desigual. É importante que os países se organizem para políticas de saúde e económicas concertadas", alerta a investigadora.
Pormenores
No resto da Europa - Maior incidência de casos é associada a países com maior taxa de desemprego e desigualdade de rendimento.
Dados da DGS e INE - Estudo usou dados da DGS do número de casos de infeção por concelho e dados do INE sobre nível socioecónomico e desemprego por concelho. No Barómetro Covid-19, com 4000 respostas, 52% diz não ter perdas salariais. Nos agregados que ganham entre 651 e 1000 euros, 56% sofreram cortes.
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