Banco Público tem já 982 pedidos. Pandemia atira espera para três anos. Dádivas caem a pique e são residuais.
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O que já era desolador, a pandemia veio agravar. O Banco Público de Gâmetas tem, atualmente, 982 mulheres em lista de espera para ovócitos e espermatozoides para cumprirem o sonho de terem um filho. Os tempos de resposta agravam-se e estão agora nos três anos. Num ano sem dádivas de gâmetas masculinos, os especialistas pedem medidas urgentes. Porque há um relógio biológico que não pára.
De acordo com os dados facultados ao JN pelo Banco Público de Gâmetas (BPG), "a lista de espera para gâmetas masculinos é de 639 e a de gâmetas femininos é de 343". Face ao início de 2020, tratam-se, respetivamente, de mais 145 e 23 pedidos. Sendo que, no ano passado, não houve uma única dádiva de espermatozoides e só oito de ovócitos.
Sem doações e com a lista de espera a engrossar, os tempos de resposta estão agora nos três anos, tanto para gâmetas masculinos como femininos. Face a 18 de março de 2020, quando a pandemia nos entrou porta dentro, acrescem, em média, mais seis meses.
O que também foi agravado pela paragem da atividade dos centros. E que, mediante a situação epidemiológica, só deverá regressar à normalidade no segundo semestre. Paragem que interrompeu, por completo, entre março e dezembro, a atividade de recrutamento e seleção de dadores e de colheita de gâmetas.
Faltam dadores
Em 2020, precisa o BPG, "foram considerados dadores efetivos cinco masculinos e 17 femininos". Já no passado mês, "realizaram consulta médica e encontram-se em avaliação dois candidatos a doação de gâmetas masculinos e duas candidatas a doação de gâmetas femininos".
Uma realidade de todo contrária à dos centros de PMA privados que, apesar da quebra de 30% no ano passado, somaram 854 doações de ovócitos e 403 de espermatozoides (ver tabela).
Ao JN, o presidente da Sociedade de Medicina da Reprodução defende que, "sendo cerca de 60% dos ciclos efetuados nos privados e 40% nos públicos, o número de dádivas destes deveria ser 40% do total". Sabendo-se que "os privados têm mais de 95%". Só com mais dádivas, sublinha, se reduz o tempo de espera.
"Ninguém consegue parar o relógio biológico. Três anos de espera não é minimamente aceitável. Temos que criar condições para que se reduza", frisa Pedro Xavier. Avisando: "O número de dádivas tem que aumentar significativamente".
Além de mais dádivas, é preciso investimento. "É preciso aumentar a capacidade para fazer mais ciclos, tratamentos", diz o médico Alberto Barros. Recordando que em países como a Dinamarca mais de 10% dos bebés nascem através de técnicas PMA e Portugal está nos 3,2%.