Este ano letivo, 28 agrupamentos aplicam este programa. Meta dos 5% da rede pública em 2020 não foi conseguida. Governo prolonga objetivo até 2022.
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Vinte e oito agrupamentos da rede pública têm turmas do Pré-Escolar ao 9.º ano em ensino bilingue (português e inglês). A meta para se atingir 5% dos agrupamentos (cerca de 40) com ensino bilingue em 2020 não foi conseguida. O Governo manteve o projeto como prioritário nas Grandes Opções do Plano e o objetivo passou para 2021/2022.
"A pandemia levou a que, em abril, um conjunto de escolas de diferentes municípios, que já tinham prevista a sua inclusão no programa este ano letivo, tivesse necessidade de rever a sua participação. A meta dos 5% centra-se agora em 2021-2022", assume o Ministério da Educação, em resposta enviada ao JN. No ano passado, estavam abrangidos pelo programa cerca de 2400 alunos do Pré-Escolar ao 9.º ano e mais de 120 professores. Este ano, segundo os números provisórios do ME, há mais de 2900 alunos e quase o dobro dos docentes: mais de 230.
"Absoluta naturalidade"
"Quando entramos dentro da sala de aula, notamos a mudança do português para o inglês, mas os alunos não. Reagem com absoluta naturalidade. Nem notam", frisa Cesário Silva, diretor do Agrupamento de Marinha Grande Poente, que aderiu ao projeto em 2016. Essa naturalidade, explica, prova a "elasticidade mental" que estes alunos desenvolvem.
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"É uma aprendizagem integrada, que permite rentabilizar o tempo sem acrescentar currículo. Dão os bons-dias em inglês, falam sobre o tempo, os dias da semana, o horário ou as refeições", aponta, assegurando que a aquisição de vocabulário, compreensão oral e escrita destes alunos quando chegam ao 5.º ano é muito superior à dos restantes. E os resultados a Português e Matemática não são, regra geral, inferiores, garantem diretores ouvidos pelo JN. No Pré-Escolar, a introdução do inglês é feita de forma lúdica, através das rotinas diárias. No 1.º Ciclo, as disciplinas escolhidas são o Estudo do Meio e as Expressões. "Mais de um terço do tempo de aulas (37%) é em inglês, sete a nove horas por semana", frisa Carmen Rocha, presidente da Comissão Administrativa Provisória do agrupamento António Nobre, no Porto.
Tutela tem de fixar recursos
No António Nobre, o ensino bilingue começou como projeto-piloto em três turmas de duas escolas de 1.º Ciclo (Antas e Monte Aventino) em 2011. Foi sendo alargado até ao 2.º Ciclo mas, no ano letivo 2017-2018, recuaram por falta de crédito horário e de professores acreditados. Por isso, este ano, preferiram alargar a uma turma do Pré-Escolar e manter quatro turmas do 1.º Ciclo na Monte Aventino.
"Se o ME quer alargar este programa tem de lhe fixar mais recursos", frisa Jorge Andrade, diretor do agrupamento de Gardunha e Xisto, no Fundão, onde 190 alunos de turmas do 1.º ao 9.º têm aulas bilingue em certas disciplinas.
A atribuição de um crédito horário ao programa (em vez de o tempo ser retirado do crédito global da escola) e a estabilidade do corpo docente, que tem de fazer formação obrigatória com o British Council, são as principais fragilidades apontadas pelos três diretores.
"É um projeto que exige muita disponibilidade, trabalho de equipa e investimento pessoal", começa por frisar Cesário Silva. Não é fácil, com a mobilidade e o envelhecimento da classe que inibe quem está a poucos anos da aposentação de iniciar formação e mudar radicalmente de estratégias, apontam Carmen Rocha e Jorge Andrade. Nos três casos é atribuído ao projeto um docente de Inglês que ajuda na elaboração de materiais e passa cerca de uma hora por semana com as turmas.