Dados do INE apontam para mais de 29 mil bodas feitas no ano passado, um aumento de 10 mil face a 2020. Nascimentos com valor mais baixo desde 1960.
Corpo do artigo
Após um 2020 "terrível", marcado pela chegada da pandemia a Portugal e pelo adiamento de muitas festas, o setor dos casamentos começou a ver uma luz ao fundo do túnel em 2021. No ano passado, segundo os dados provisórios divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), celebraram-se mais 10 mil casamentos do que em 2020. Ainda assim, os números continuam aquém do pré-pandemia. O setor espera que 2022 traga a retoma. Em contrapartida, os nascimentos continuam em queda, atingindo o valor mais baixo desde 1960.
No ano passado, de acordo com o INE, realizaram-se 29 045 casamentos. Trata-se de mais 10 143 bodas do que em 2020 e de uma quebra de 4 227 face a 2019. Mas há boas notícias para o setor que, este ano, espera uma retoma. Nas quintas contactadas pelo JN, há datas que já estão esgotadas. Nas agendas, contam-se novos casamentos e reagendamentos das festas adiadas pela pandemia. A Quinta do Alferes, em Vila do Conde, é exemplo disso. Este ano, cerca de 10% dos casamentos correspondem a eventos adiados. "Tenho uma agenda superpreenchida, com muito trabalho. Nas datas premium [meses de verão e fins de semana] estamos totalmente preenchidos", revelou José Maia, dono da quinta vila-condense.
Olhando para 2021, José Maia diz ter sido "um ano de alguma retoma". No entanto, o setor enfrentou percalços. "Só começamos a operar em maio e com uma instabilidade muito grande, porque, quase semanalmente, tínhamos novidades [da pandemia]", disse.
A par disso, o "número médio de pessoas por evento baixou de forma significativa". No negócio que gere, a quebra de convidados por boda rondou os 30%. As razões foram múltiplas: as pessoas estavam em isolamento ou tinham receio de possíveis contágios. "Isso teve um impacto muito grande na rentabilidade da nossa operação".
Redução do IVA
Com a esperança de que 2022 seja o ano da retoma, José Maia traça como desafio para o setor os custos de produção: "Enquanto um restaurante pode atualizar o seu preço dia a dia, nós não podemos. Vou fazer eventos agora com contratos assumidos há três anos. A escalada de preços tem sido brutal e faz com que a rentabilidade seja menor", lamentou o empresário, defendendo uma redução do IVA para que o setor possa reequilibrar as contas.
Rumo a Sul, em Lisboa, na Quinta do Roseiral também se espera que este ano seja de retoma. Entre maio e outubro, contou Ana Batalha, há alguns fins de semana já esgotados. "Em 2020, houve uma quebra abrupta de casamentos. Em 2021, já se notou uma retoma, mas nada comparável ao pré-pandemia", referiu.
Em Viseu, na Quinta do Medronheiro, cerca de 90% dos casamentos previstos para 2020 foram cancelados. No ano passado, houve uma quebra de cerca de 50% dos eventos face ao antes da pandemia. "Para este ano, temos uma melhoria significativa. As pessoas têm essa vontade de efetivar o casamento, provavelmente pelas notícias que têm saído e pelo controlo que tem existido da pandemia", admitiu Pedro Freitas.
Verónica Cristóvão, dona de uma loja de vestidos de noiva em Matosinhos, tem a mesma perceção. "Este ano, já há muitos mais novos casamentos. As pessoas estão com menos medo. A covid deixou de ser um bicho papão", afirmou. Na Wendy Creating Moments, Regina Martins acredita que "este ano vai ser um ano de muito trabalho". No entanto, o setor só vai "normalizar" em 2023. "Deixaremos de ter os casamentos pendentes e conseguiremos planear o ano com outra calma", estimou ainda.
Clara e Olav juntaram religiões e países numa união civil e católica
Foi "muito difícil organizar, deu muito trabalho e podia ter corrido mal", mas, depois de quase 400 testes covid realizados em diversos continentes, voos cancelados e voos substituídos, tudo correu bem na cerimónia de casamento de Clara Bernardino, 33 anos, portuguesa, e Olav Vogt Engeland, 31 anos, norueguês.
A cerimónia realizou-se no dia 10 de julho de 2021, em Leiria, e foi planeada cerca de 18 meses antes "para dar tempo de perceber como ia estar a pandemia", recordou, ao JN, Clara Bernardino, a técnica de oftalmologia que, em 2011, desempregada e sem perspetiva de conseguir trabalho em Portugal, decidiu candidatar-se a um trabalho na Noruega. Conseguiu o emprego e pouco tempo depois, sem falar a língua e sem conhecer ninguém, estava a trabalhar num país onde "os dias são muito pequenos e onde há sempre muita neve".
O Estado garantiu-lhe aulas de norueguês e, um dia, num bar, surpreendentemente falaram com ela em português. Foi assim que conheceu Olav, advogado, que, no ano sabático que tirou entre os estudos, viveu em França, no Brasil, em Portugal e na Argentina.
Preparação para casar
Não mais se largaram e quando pensaram em casar, começaram as dificuldades. "Ficou logo decidido que casávamos em Portugal, porque casar na Noruega é caríssimo", frisou Clara. A data também foi fácil de marcar e os convidados estrangeiros, só 40 estiveram presentes na boda, fariam a viagem até Leiria. Mas Olav é protestante e Clara é católica e o casamento seria na Igreja.
Para agilizar o processo, casaram pelo civil em Oslo e informaram-se do que seria necessário para realizar um casamento religioso em Portugal.
"Ficamos a saber que tínhamos que frequentar uma preparação para o matrimónio na Igreja Católica da nossa cidade, que seria um casamento misto e que teríamos que nos comprometer a educar os nossos filhos segundo a Religião Católica", recorda a noiva. E foi isso que fizeram. Durante dois fins de semana, os noivos estiveram com um padre católico a falar de casamento e a ler a Bíblia. "Correu tão bem, que o padre enviou a autorização para diocese de Fátima e, depois, para a paróquia de Ourém. E pudemos casar", explica Clara. A formação foi alterada por causa do confinamento e não se puderam juntar a outros casais que também preparavam a cerimónia católica.
A festa correu tão bem, que os amigos estrangeiros querem vir todos casar a Portugal. "É barato, tem locais maravilhosos, a comida é boa e a bebida ainda é melhor", brinca. Apesar das limitações nas viagens, a verdade é que alguns dos convidados já voltaram a Portugal para passar férias e "ficaram apaixonados".
A experiência levou Clara Bernardino a interessar-se pela dinâmica dos casamentos e a olhá-la como profissão. Está a fazer uma formação em wedding planner. "Oficialmente, na Noruega, existem pouquíssimas pessoas a organizar casamentos e eu, para além do que estou a estudar, já tenho a minha experiência".