O secretário-geral do PCP denunciou esta terça-feira as "juras de amizade" e "confissões de fidelidade" na direita, reiterando num comício da CDU, em Almada, que PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal querem aprofundar as políticas dos tempos da 'troika'.
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Perante algumas centenas de militantes da CDU, num jantar realizado na Sociedade Filarmónica União Artística Piedense, Paulo Raimundo recordou a forma como PSD e CDS governaram entre 2011 e 2015, sublinhando que os "principais rostos da IL e do Chega" estavam também entre os seus apoiantes.
"Para quem tinha esquecido esta realidade ou não sabia que era assim, as últimas horas da campanha eleitoral foram muito reveladoras. Foram as juras de amizade de uns, foram as confissões da fidelidade do voto de outros... houve de tudo, só faltou dizerem o que fizeram. Cá estamos nós para lembrar o que eles fizeram. A verdade dos factos é que estavam lá todos a aplaudir as medidas sombrias da troika e que agora pretendem aprofundar ainda mais", disse.
A intervenção do líder comunista não passou ao lado da admissão feita hoje pelo presidente da IL, Rui Rocha, de que tinha votado em Passos Coelho (PSD) em 2011 e 2015. No entanto, recusou catalogar a situação como um problema do passado, ao considerar que "é um problema do presente" e que se estende também ao Partido Socialista.
"Quando o PS precisou de apoio para travar direitos dos trabalhadores, PSD, CDS, IL e Chega nunca faltaram à chamada para travar os direitos de quem trabalha e garantir os interesses dos grupos económicos", frisou, continuando: "O problema é a falta de vontade e as opções políticas. Isso é que é preciso mudar. O problema é que são os interesses do capital que têm estado no centro da ação governativa. Quanto mais o PS reforça, mais à direita o PS governa".
Paulo Raimundo reivindicou, por isso, que "a alternativa à política de direita não vem do PS", mas sim da CDU. Apelou então ao voto na Coligação Democrática Unitária (que junta PCP e PEV) para dar mais força "aos trabalhadores de Almada e do distrito" de Setúbal, num comício em que contou também com os candidatos distritais Paula Santos (cabeça de lista), Bruno Dias (número dois) e Heloísa Apolónia, dos Verdes e a terceira da lista.
O líder comunista assegurou também que não falta dinheiro para concretizar as propostas da CDU, ao contrapor a aplicação pelo Estado de "16 mil milhões de euros no buraco que a banca privada abriu entre 2008 e 2021" ou a concessão de "1600 milhões em benefícios fiscais para os grandes grupos".
"Se há dinheiro para tudo isto, então o problema não é a falta de dinheiro", afirmou Raimundo, concentrando as suas atenções no aumento dos salários e das pensões: "A riqueza produzida no nosso país chega e sobra para responder ao aumento urgente dos salários. Não há país com futuro com baixos salários e baixas pensões".
Além de questões relevantes para a população local, como a Autoeuropa, a base do Alfeite ou o hospital Garcia de Orta, o secretário-geral do PCP mostrou especial preocupação com a habitação, defendendo que não é possível continuar com esta "situação insuportável".
"Propomos de forma clara o travão ao aumento das rendas e a sua regulação, a revogação da lei dos despejos, a estabilidade dos arrendamentos, que os lucros de 12 milhões de euros por dia da banca suportem o aumento das taxas de juro e eliminando as comissões bancárias, que são um autêntico assalto aos salários e rendimentos de cada um", realçou.
E concluiu o terceiro dia oficial de campanha com um compromisso que, de resto, figura no programa eleitoral do partido para as eleições de 10 de março: "Para cumprir Abril é preciso avançar com um forte investimento público e disponibilização de habitação pública que assegure nos próximos quatro anos 50 mil novas habitações, mobilizando para tal o valor médio de 1% do PIB. Sem esta opção pública, não vamos lá".