A raspadinha chega, esta sexta-feira, aos 25 anos de presença no mercado com o estatuto de jogo preferido dos portugueses.
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Só no último ano, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa vendeu à sua rede de mediadores 745 543 760 lotarias instantâneas, ou seja, uma média de dois milhões de bilhetes por dia. O Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) vai avançar com um inquérito, que permitirá perceber a dimensão real do fenómeno.
A faturação de 2019 ainda não está disponível, mas o último relatório e contas dos Jogos Santa Casa (JSC), referente a 2018, demonstra que as raspadinhas foram responsáveis pela angariação de 1594 milhões de euros, cerca de metade do total de vendas brutas (3097 milhões de euros). Um ano depois, mantém-se "no top de vendas dos Jogos Santa Casa e detém cerca de 50% do respetivo portefólio", admitem os responsáveis, justificando o sucesso com o "cariz de entretenimento" e os "prémios imediatos", "características cada vez mais valorizadas pelos consumidores e que correspondem a tendências de consumo globais".
É, também, essa a perspetiva do coordenador do Instituto de Apoio ao Jogador, Pedro Hubert. "Há jogos que têm um potencial para se tornarem mais apelativos do que outros. A raspadinha pode jogar-se muitas vezes, num período de pouco tempo, tem uma resposta rápida e sabe-se logo o montante do prémio", sintetiza o psicólogo, defendendo que "não é a raspadinha, em si, que é aditiva", mas há "algumas pessoas que têm maior predisposição para as dependências do que outras, seja por razões neurobiológicas, genéticas ou situações de vida".
Apesar de só uma "minoria" ter problemas de adição ao jogo em geral, o psicólogo defende que o Governo deve avançar com mais programas de prevenção e reforçar consultas e tratamentos. "O Estado recebe muito dinheiro, também tem responsabilidades", entende Pedro Hubert.
inquérito com resultados em 2021
Ao SICAD são "residuais" os casos que chegam relativos ao "vício da raspadinha". "Não temos uma noção muito clara do fenómeno, mas vamos lançar um novo inquérito aos consumos", adianta o diretor-geral, João Goulão, apontando os resultados para o próximo ano.
Ao JN, a Santa Casa assume que as vendas elevadas estão mais relacionadas "com o aumento da base de jogadores e não tanto com o aumento do gasto per capita". Ainda assim, como medidas de contenção, não faz investimentos publicitários e tem limitado os bilhetes distribuídos.
Desde que foi criada, a raspadinha já lançou 422 emissões, sendo que o "Grande Sorte", com custo de dois euros e um prémio até 20 mil euros, é o jogo mais antigo, com nove anos. Isso não significa que é o mais vendido. O sucesso de vendas é a raspadinha "20x", com o mesmo custo e prémio máximo.