Oferta exclusiva das universidades acaba este ano por decisão da tutela. Instituições de ensino multiplicam cursos para atrair mais alunos, sobretudo internacionais.
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O fim dos mestrados integrados no presente ano letivo vai levar a um aumento exponencial da oferta de cursos pelas instituições universitárias. A Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) recebeu 84 pedidos para validação de licenciaturas e 121 para mestrados. No início de março, dois terços tinham sido acreditados pela agência.
Os mestrados integrados (MI), oferta exclusiva das universidades, permitem ao estudante fazer a licenciatura e o mestrado sob um só chapéu, num total de 300 a 360 créditos. Há três anos, o ministro do Ensino Superior pôs término a este ciclo de estudos integrados, por restringirem a mobilidade dos alunos. Em vigor, e ao abrigo da diretiva comunitária, mantêm-se 11 MI de Medicina, nove de Veterinária, oito de Dentária, 20 de Arquitetura e dez de Ciências Farmacêuticas.
A Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) tem registo de 166 destes cursos, num total de 55 instituições. Entre os que se mantêm e os cerca de 50 que estão a cessar, a A3ES recebeu 84 pedidos de acreditação para licenciatura (cada MI corresponde a uma licenciatura) e um número substancial para mestrados: 121.
"Quando desagregaram em licenciatura e mestrados, houve instituições, nomeadamente no curso de Psicologia, que resolveram multiplicar o número de mestrados. Há situações em que temos uma licenciatura a gerar três a cinco mestrados", diz ao JN o presidente da A3ES. Segundo João Guerreiro, até maio "o processo ficará encerrado".
Captar internacionais
Foi o que aconteceu na Universidade do Minho, com 14 MI a darem origem a 14 licenciaturas e 19 mestrados. Com o leque de oferta a multiplicar-se em Psicologia, "abrindo-se a diferentes domínios de especialização" com vista a "captar estudantes que poderiam fazer outras opções", revela o reitor. Aumentando "o potencial de recrutamento internacional de estudantes", explica Rui Vieira de Castro.
Tanto mais que, frisa a vice-reitora Maria de Lurdes Correia Fernandes, da Universidade do Porto, "a maioria dos estudantes internacionais está em mestrados porque é um nível interessante de especialização". Sendo que, recorde-se, há determinadas profissões que obrigam, para o seu exercício, ao grau de mestre. A DGES regista, no seu site, 1579 mestrados, 80% dos quais no público. Licenciaturas contam-se 805.
Se a porta se pode abrir a internacionais, pode, por outro lado, levar à saída dos nacionais. Um receio há muito apontado por reitores. "Vai ser inevitável que isso aconteça. Volta a ser mais uma decisão que prejudica enormemente a descentralização. As engenharias vão ser afetadas e o país não ganha com isso", diz o reitor de Coimbra, Amílcar Falcão.
O presidente da A3ES põe a tónica na qualidade da oferta: "Se é boa, não interfere na litoralização". Mas, sobretudo, na mobilidade, porque, para o estudante, "é mais interessante fazer a licenciatura numa instituição e o mestrado noutra".
À LUPA
Em análise 205 cursos
A A3ES tem em mãos 205 pedidos de acreditação: 84 licenciaturas e 121 mestrados. No início de março estavam concluídos e acreditados 133 cursos: 56 licenciaturas e 77 mestrados.
Propinas máximas
Quando os mestrados integrados determinam o acesso à profissão - caso de Medicina - aplica-se a propina máxima prevista para licenciaturas. Atualmente, está nos 697 euros.
Período transitório
Os mestrados integrados vão funcionar por mais quatro anos letivos para os alunos neles matriculados e inscritos.
REITORES
Mudanças em ano pandémico preocupam
A nova oferta educativa entra em vigor no ano letivo 2021/2022 em contexto pandémico. "Não vai ser o melhor ano para testar os efeitos desta opção", afirma o reitor da UMinho. Posição corroborada por Amílcar Falcão, de Coimbra: "Dadas as circunstâncias, se calhar era mais avisado prorrogar por mais um ano". Um pedido que as instituições fizeram chegar ao ministro Manuel Heitor que, diz o reitor da universidade mais antiga do país, "está muito focado nisto, não quer adiar". Por outro lado, afirma Rui Vieira de Castro, a quem falta acreditar um terço dos cursos, os timmings são curtos. "Passamos de 14 para 33 cursos, obrigando a adaptar sistemas de informação. É um período curto".