
Refugiados que passaram fronteiras ficaram sobretudo na Polónia
Odd ANDERSEN / AFP
O presidente da UNITE, rede mundial de parlamentares que visa eliminar as doenças infecciosas enquanto ameaça global, defendeu este domingo, ao JN, que a União Europeia (UE) deveria garantir nos países de fronteira com a Ucrânia "um conjunto de respostas de saúde" a quem chega daquele país, "com oferta de vacinação", mas "infelizmente isso não está a acontecer". Segundo Ricardo Baptista Leite, fundador e presidente da UNITE, esta "ação concertada que deveria começar na zona fronteiriça" seria uma "base de apoio" aos países de acolhimento, como Portugal, que publicou uma norma para vacinação dos refugiados.
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No caso dos adultos, o mais premente seria a UE garantir nessas zonas de fronteira a oferta de vacina contra a covid-19 e, para as crianças, seria disponibilizada vacinação, por exemplo, contra o sarampo, sublinhou o presidente da UNITE, médico com formação em doenças infecciosas.
Ricardo Baptista Leite defendeu que este processo permitiria proteger a saúde dos refugiados e de quem circula entre a Ucrânia e outros países, como também impedir surtos dessas doenças nos países de acolhimento. Mas ressalvou que este é um processo em regime voluntário, sendo fundamental "preservar o direito à opção individual" nesta matéria.
Do mesmo modo, reforçou que a vacinação não seria apenas para refugiados, mas para os outros cidadãos que estão em circulação, afastando a ideia de qualquer discriminação dos ucranianos nesta matéria.
A Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou sábado uma norma sobre a vacinação dos estrangeiros em contexto de proteção temporária, enquanto "uma das prioridades do programa de acolhimento em matéria de saúde". Devido ao conflito armado que está a destruir o sistema de saúde ucraniano, foram definidas prioridades de vacinação contra o sarampo e contra a poliomielite e emitidas recomendações sobre tuberculose, covid-19 e gripe sazonal.
Perante esta norma, o presidente da UNITE defendeu a sua operacionalização e destacou igualmente a importância da testagem para despiste da covid-19, bem como do acompanhamento de doenças crónicas.
A UNITE tem alertado para o aumento das doenças infecciosas devido à interrupção de serviços de saúde e dos esquemas vacinais, e também à destruição de estruturas de saneamento na Ucrânia, com dificuldades crescentes no acesso a água potável.
Segundo a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), perto de 3,4 milhões de ucranianos já deixaram o país desde o início da invasão russa, no dia 24 de fevereiro. E "dez milhões de pessoas fugiram, deslocadas internamente ou refugiadas no exterior", segundo o alto-comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi. Com as populações fustigadas pelo frio e amontoadas em abrigos, cria-se o meio ideal à propagação de doenças infecciosas.

