O risco de doenças infecciosas, com destruição de infraestruturas de água e saneamento e interrupção dos esquemas vacinais, aumenta na Ucrânia, mas também nos países de acolhimento. Em Portugal, urge operacionalizar a norma publicada sábado que dá orientações aos serviços para a vacinação prioritária de refugiados, sobretudo contra o sarampo e a poliomielite, de forma a travar surtos, incluindo uma nova vaga de covid-19 e casos de tuberculose multirresistente. O pneumologista Filipe Froes disse ao JN acreditar que "os critérios de operacionalização serão rapidamente articulados entre todas as entidades envolvidas" de forma a concretizar-se a vacinação, que não é obrigatória.
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A ministra da Saúde, Marta Temido, prometeu "fazer o melhor" para garantir aos refugiados o acesso à vacinação, quando esta for inexistente ou incompleta, depois de, conforme noticiou sábado o JN, a Direção-Geral da Saúde (DGS) ter publicado a norma que define as estratégias de vacinação de cidadãos estrangeiros no contexto de proteção temporária, dando prioridade ao sarampo e à poliomielite, mas emitindo também recomendações sobre tuberculose, covid-19 e gripe sazonal.
Desde o início do invasão russa que o risco de aumento das doenças infecciosas tem gerado alertas de várias organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para além das instalações de saúde atingidas pela Rússia, que chegaram esta semana à meia centena, e da falta de água potável, a OMS destacou que as populações fustigadas pelo frio e amontoadas em abrigos criam um meio ideal à propagação de doenças como covid-19, sarampo, poliomielite, tuberculose ou HIV. Isto num país com baixas taxas de vacinação e surtos recentes de tuberculose multirresistente, sarampo ou poliomielite.
Doenças crónicas são preocupação
O pneumologista Filipe Froes, doutorado em Saúde Pública, tem defendido precisamente uma avaliação oficial do estado de saúde dos refugiados, não só no contexto da pandemia da covid-19 e de outras doenças infecciosas, mas também para avaliar as doenças crónicas que possam ter, com tratamentos e medicação em falta.
Questionado este domingo pelo JN sobre a norma publicada pela DGS, destacou que falta agora a sua operacionalização, considerando tratar-se de uma iniciativa "extremamente útil, necessária e justa" para proteger a saúde dos cidadãos que chegam da Ucrânia, mas também a dos portugueses perante o risco de surtos.
"Não tenho dúvidas de que estes critérios de operacionalização [agora publicados pela DGS] serão rapidamente articulados entre todas as entidades envolvidas", afirmou o especialista ao JN, destacando as iniciativas já em curso para avaliação do estado de saúde e vacinal dos refugiados, como é o caso do grupo de apoio humanitário da Ordem dos Médicos.
Garantias da ministra
"Sabemos que há doenças que estão mais presentes nesse território, designadamente sarampo, tuberculose multirresistente e poliomielite, que os planos vacinais das pessoas poderão não estar atualizados", referiu Marta Temido. Além disso, afirmou que já têm número de utente emitido cerca de 11 mil ucranianos, dos que pediram proteção temporária.
Agora, Portugal vai ter de organizar a "resposta de saúde" para um acesso de mais refugiados. E "há iniciativas que estão a ser organizadas em conjunto entre as instituições e o Ministério da Saúde no sentido de melhorar essa resposta", assegurou, notando que, diariamente, estão a chegar a Portugal entre mil a duas mil pessoas.