Estudo da Faculdade de Medicina do Porto identifica 318 mil episódios no país entre 2014 e 2017. Pneumonias foram a infeção hospitalar mais frequente.
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Em quatro anos (2014/17), registaram-se mais de 318 mil episódios de hospitalização em unidades de saúde públicas com, pelo menos, uma infeção hospitalar. Daquele total, 15,7% dos doentes morreram durante o internamento. Com a Região Centro a apresentar, "sistematicamente, as taxas mais altas de internamentos por infeções hospitalares". As conclusões são de um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que irá analisar, agora, o porquê destes dados.
O objetivo é estudar e identificar padrões espaciais nas infeções hospitalares em Portugal. Acabando por se destacar a Região Centro, com as mais altas taxas. "As infeções não estão distribuídas aleatoriamente no espaço, uma vez que os clusters de alto risco foram observados no Centro do país", explica Hugo Teixeira, investigador da Faculdade de Medicina do Porto e do Cintesis e coordenador do estudo, publicado no "International Journal of Environmental Research and Public Health". Em sentido contrário, com as taxas mais baixas, está o Sul. "Independentemente da idade dos doentes" e do ano analisado, as "disparidades geográficas mantiveram-se", refere a Faculdade de Medicina em nota enviada ao JN.
De acordo com os dados facultados por Hugo Teixeira, em 2015 (dos anos em análise, aquele onde a taxa foi mais elevada em Portugal), o Centro registou uma média de 528,81 infeções hospitalares por 100 mil habitantes face a uma média nacional de 490,8. Naquele ano, seguiu-se Lisboa e Vale do Tejo, com 488,39; Alentejo, 483,74; Norte, 465,62; e Algarve, 416,98. Os episódios são registados pelo município de residência do doente, não significando que a infeção tenha ocorrido naquela região, vincam os investigadores.
"Ficamos surpreendidos com este padrão", diz Hugo Teixeira. As explicações para estes clusters abrem caminho a novo estudo. Em cima da mesa estão hipóteses "como o acesso a cuidados de saúde primários" - o país "tem muitos internamentos evitáveis" - ou a resistência a antibióticos.
Pneumonias lideram
No período estudado, 50 087 destes doentes viriam a morrer. Se por ou com infeção hospitalar não é dito. Analisando os episódios por tipo de infeção hospitalar, as pneumonias respondem por 58% do total, assumindo um peso de 72,7% nos jovens. Segue-se a infeção do trato urinário, com 31,7% dos episódios. Com letalidades de, respetivamente, 18,5% e 13,9%.
Nos quatro anos em análise, conta-se uma média de 1525 casos por semana, 77,2% dos quais nos mais de 65 anos, seguindo-se os 20-64 anos, com 18,1%, e os 0-19, com 4,7%. A idade média fixou-se nos 79 anos, com a maioria dos episódios a afetar as mulheres (50,2%). A mediana de internamento é de nove dias: seis nas crianças e nove nos idosos. A maioria dos adultos e idosos tinha uma ou mais comorbilidades.
À lupa
Metodologia
Foram analisados episódios de doentes que não tinham infeção à data de admissão hospitalar através do Registo de Altas Hospitalares do Serviço Nacional de Saúde. As taxas foram calculadas pelo local de residência do doente.
Dados
Analisadas as altas nos hospitais públicos entre 1 de janeiro de 2014 e 31 de dezembro de 2017. Excluídos episódios de internamento superiores a 180 dias.
Análise
Os investigadores recorreram a uma metodologia assente na utilização dos Sistemas de Informação Geográfica. Criaram três grandes grupos etários: 0-19 anos (jovens), 20-64 (adultos) e mais de 65 anos (idosos).
Autores
Coordenada por Hugo Teixeira, a equipa contou com a participação de investigadores da Faculdade de Medicina do Porto, António Sarmento, Alberto Freitas e Hernâni Gonçalves; da Universidade de Coimbra, Paula Nossa; e da Fundação Oswaldo Cruz (Brasil), Maria de Fátima Pina.