Líder do PSD deve convocar, para breve, um Conselho Nacional para agendar diretas e outro congresso. Partido está em choque e ainda ninguém deu um passo em frente.
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Rui Rio pode não ter usado a palavra "demissão" na noite eleitoral, mas a decisão já estava tomada e está prestes a ser comunicada aos órgãos do partido. O presidente do PSD está de saída e já está a preparar o partido para a escolha de uma nova liderança. Dentro de duas semanas, deverá reunir-se em Conselho Nacional para debater o que se passou e marcar novas diretas e congresso.
No debate televisivo com todos os candidatos, Rui Rio tinha avisado que, na noite eleitoral, não sairia "em circunstância alguma", considerando que isso seria uma "manobra teatral". E foi o que fez anteontem, ao recusar usar a palavra demissão, apesar da insistência dos jornalistas e criando até um momento de crispação, ao responder em alemão.
"O primeiro responsável sou eu", disse o líder dos sociais-democratas, admitindo não conseguir ver como poderia ser "útil ao partido" num ciclo de quatro anos de maioria absoluta do PS. Isto apesar de até ter conseguido chegar ao poder nos Açores e de ter conquistado mais 13 câmaras nas cinco eleições que disputou durante a sua liderança (ver infografia).
À espera de Montenegro
Para um dos seus adversários internos, Miguel Pinto Luz, o líder do PSD fez bem em não ter apresentado a demissão porque deu "tempo para o partido respirar fundo e recuperar". "Isto é muito importante. O partido tem tempo", disse, no seu espaço de opinião no "Não Alinhados", na TSF, refletindo o sentimento de choque que ainda se vivia ontem no partido. Por isso, apesar da exortação à abertura de um novo ciclo, ainda ninguém deu um passo em frente. Nem Pinto Luz, nem Paulo Rangel, que se mantém em silêncio, ou Luís Montenegro, que é visto como o candidato mais provável à liderança. "Não tem como recusar", disseram, ao JN, vários dirigentes.
"Dar o lugar a outros"
Ontem, segundo apurámos, Rui Rio já preparava o processo de "transição". A Comissão Política deverá reunir-se ainda esta semana e, possivelmente dentro de duas semanas, haverá um Conselho Nacional com o intuito de analisar os resultados eleitorais e marcar novas diretas e congresso. "É altura de dar lugar a outros", considera a Direção do PSD.
Ontem, o ex-líder da JSD Pedro Rodrigues exigiu precisamente "a convocação urgente" de um congresso para discutir a reconstrução do partido.
"É tempo de virar a página", crê o ex-deputado. "Rui Rio não tem condições para continuar", concorda o líder do PSD/Setúbal, Paulo Ribeiro. Já Paulo Cunha (PSD/Braga), defende o líder: "merece ser ele a decidir o que há de fazer".
Haveria, porém, quase nula margem de manobra para ficar no cargo. O líder do PSD/Porto Alberto Machado responsabiliza-o pela derrota. "Abre-se agora um novo ciclo e vamos esperar para ver quem são os novos protagonistas", crê o líder do PSD/Beja, Gonçalo Valente, enquanto o dirigente de Santarém, João Moura, lembra que o partido tem "muitos quadros".
De todos os líderes distritais apenas o de Viana do Castelo, Cristóvão Crespo, defende que "não faz muito sentido" já estar a discutir se o PSD deve "mudar de líder".