Conselheiros nacionais esperam que, em Barcelos, seja encontrado, pelo menos, um período temporal para a realização de eleições internas. Processo eleitoral apenas pode ser desencadeado após demissão do líder, lembram dirigentes.
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Não pode passar do Conselho Nacional de hoje. Conselheiros nacionais defendem que Rui Rio deve demitir-se da liderança do PSD para que seja desencadeado o processo de eleições internas. Até pode não ser acordada, em Barcelos, uma data específica para as diretas. Mas é esperado, pelo menos, um "período temporal". Caso isso não aconteça, avisam o líder do partido que será confrontado "com alguma dureza". Em suma, está nas mãos de Rui Rio conseguir uma "transição pacífica" na liderança, advertem.
Para o ex-líder da JSD Pedro Rodrigues, não há alternativa: no Conselho Nacional de Barcelos, é preciso que se "inicie o processo de reflexão de que o partido precisa e que o presidente do PSD apresente a sua demissão, de modo a permitir que o partido ultrapasse o estado de negação em que se encontra".
"Não se pode apontar uma data sem que o presidente do partido se demita. As eleições para qualquer órgão só podem ser marcadas se houver uma vacatura. Tem que se demitir! Só depois disso é que se pode falar em datas e eventuais candidaturas à liderança", crê o conselheiro nacional Maurício Marques, considerando que a atual "Direção deixou o partido num estado muito difícil".
Assumir culpa e virar página
Há uma semana, Rui Rio admitiu como natural que nenhum candidato se tivesse assumido, dado que ainda não tinha apresentado a demissão. Portanto, o processo de convocação de diretas e congresso não podia ser aberto. Agora, os conselheiros nacionais esperam que diga o que se recusou a dizer, preto no branco, aos jornalistas na noite eleitoral: "demito-me!".
"Tudo depende da sua postura e da forma como fizer a transição. Se levar uma data e fizer um Conselho Nacional a pensar nisso, é pacífico. Se ignorar isso e ficar uma ideia de adiar ou perpetuar, Rui Rio pode ser confrontado com alguma dureza", antecipa o conselheiro nacional Duarte Marques, recordando, nas entrelinhas, todo o ambiente quente que rodeou Rui Rio desde que foi eleito líder do PSD em 2018.
Também por isso - e porque o partido já pensa no fim do ciclo da liderança que mais tempo aguentou na oposição -, Duarte Marques espera que a Direção assuma alguma culpa pelos resultados das legislativas e vire a página. Ainda ontem, Carlos Carreiras tentava atirar o ex-líder Marques Mendes para uma corrida em que já se posicionam cinco possíveis candidatos (Luís Montenegro, Paulo Rangel, Miguel Pinto Luz e Ribau Esteves).
À espera de uma data
"Do Conselho Nacional tem que sair uma data ou, pelo menos, um universo temporal para eleições e congresso. O PSD tem que virar a página rapidamente", anui o ex-líder do PSD/Setúbal, Bruno Vitorino, pedindo "novos protagonistas, com ideias claras" e que o partido entre em reflexão.
Para o também conselheiro nacional, os próximos quatro anos de oposição devem ser "aproveitados pelo PSD para parar, pensar, reorganizar-se, para atrair independentes e apresentar ideias, projetos e causas". "O próximo líder tem que conseguir fazer isso tudo", considera Bruno Vitorino.
"Acho que era importante termos já datas definidas mas vamos ouvir as propostas e as razões", refere outro conselheiro nacional, Luís Rodrigues. O líder do PSD/Santarém, João Moura, já tinha falado na necessidade de se resolver "o vazio" deixado pela Direção. Anteontem, dez distritais reuniram-se, em Leiria, na disposição de ajudar no processo de transição. "Vamos para o Conselho Nacional para que ele proponha uma data", disse Olegário Gonçalves, líder do PSD/Viana do Castelo.
Episódios da liderança de Rio
Saída de Hugo Soares e vaia a Elina Fraga
Foi polémica a forma como Hugo Soares acabou substituído na liderança da bancada por Fernando Negrão, pouco mais de seis meses depois de ter tomado posse e com eleições a serem marcadas nas vésperas do congresso da consagração da eleição de Rui Rio. Negrão acabou eleito com menos de 40% dos votos. E, no conclave, Rui Rio viu a sua aposta pessoal para a vice-presidência, Elina Fraga, a ser vaiada, devido a facto de o seu mandato na Ordem dos Advogados estar a ser investigado pelo Ministério Público.
Polémicas com os dois secretários-gerais
Um mês após tomar posse como secretário-geral, Feliciano Barreiras Duarte demitiu-se, em março de 2018, na sequência de acusações de falsificação de currículo. Uma decisão "irrevogável" que, para Rui Rio, foi tomada devido a uma "desproporção brutal" do caso. Feliciano Barreiras Duarte foi substituído imediatamente por José Silvano, que se mantém no cargo. Três anos depois, o processo foi arquivado pelo Ministério Público. Silvano não demorou muito a também ser alvo de um processo judicial, por suspeita de presenças falsas no Parlamento. Um caso que motivou a demissão da deputada Maria das Mercês Borges e que acabou, recentemente, com o secretário-geral a ser ilibado em tribunal.
Santana Lopes sai para criar o Aliança
O antigo primeiro-ministro, que aceitou fazer uma lista conjunta ao Conselho Nacional, acabou por se afastar do partido, em junho de 2018, com duras críticas a Rui Rio. Pedro Santana Lopes abandonou o PSD para fundar o Aliança, referindo: "Se calhar, é melhor fazer uma organização partidária em que eu possa mais à vontade ter a intervenção política que acho que devo ter". No ano passado, tentou ser candidato pelo PSD à Câmara da Figueira da Foz (acabou por protagonizar - e ganhar - numa candidatura independente) e, em janeiro, acabou por aparecer ao lado de Rui Rio na tradicional descida do Chiado, no último dia de campanha eleitoral.
Candidatos impostos e críticos afastados
No ano passado, Rui Rio viu-se envolvido em vários braços de ferro com o Conselho de Jurisdição, devido a sanções impostas a secções como as de Sintra. O "tribunal" do partido tentou impedir as sanções e a liderança acabou por enviar recurso para o Constitucional. Um caminho similar ao que aconteceu a casos de escolhas de candidatos às autárquicas, impostos por Rui Rio. O líder voltou a ser atacado por, alegadamente, ter afastado os críticos das listas das legislativas.