O Livre prepara-se para apresentar um pacote com medidas para a Coesão, "que vai incluir um rendimento básico para pessoas que desejem regressar à terra e tomar conta de terrenos", anunciou Rui Tavares, porta-voz do partido.
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Historiador, professor universitário e deputado, Rui Tavares é também o porta-voz do grupo de contacto do Livre cujo 16.º congresso (em rigor é o 17.º porque o primeiro não teve número) vai realizar-se no próximo fim de semana na Alfândega do Porto.
Já conhece as prioridades do Governo para o Orçamento do Estado para 2026?
Não. Conheço alguns dados importantes do cenário macroeconómico, que nos foram transmitidos hoje [ontem] pelo ministro das Finanças. Sei que o Governo vem para este Orçamento prevendo um superavit muito baixinho, 0,1 ou entre 0,1 e 0,3 [%do PIB], isso não é praticamente um excedente orçamental, 300 milhões de euros. É muito pouquinho, por uma razão tática, porque quer chegar ao Parlamento e dizer "agora há pouco dinheiro para gastar". Ou seja, basicamente gastaram o que entenderam e na altura com o que era praticamente a campanha eleitoral ininterrupta de Luís Montenegro.
Polícias, professores, médicos.
Os portugueses quiseram um Parlamento plural. E os partidos têm que ter direito a fazer propostas, incluindo as que tenham impacto orçamental, e tentar ter as maiorias necessárias para as aprovar e implementar. O Livre já costuma apresentar propostas que ou têm cabimento ou são compensadas por outras medidas. Por exemplo, deveria haver uma herança social que permita aos jovens fazer um investimento num negócio, numa formação, ou um casal dar uma entrada para uma casa. Achamos que isso é melhor e mais justo do que o IRS jovem. O Governo muitas vezes apresenta-se a diálogo, mas no passado o que tivemos foram reuniões que não deram em nada.
Mas não há então pontos de contacto?
Em relação a grandes princípios, acho que há um ponto de contacto para o país como um todo, não tem a ver com este Governo ou com outro. Tem a ver com uma lógica que é a de que Portugal possa ter excedentes quando a economia está a crescer, que é para depois, em momentos de contração da economia, ajudar os que mais sofrem. Um dos dados que o ministro das Finanças nos deu é que considera que vamos estar com 91% de dívida pública em proporção de PIB neste ano e no próximo ano já vamos estar abaixo dos 90%. Quando se baixa dos 90% de dívida pública, as regras europeias mudam. Já não obrigam a pagar 1% de dívida todos os anos, passa a pagar-se 0,5%. O que quer dizer que, neste momento, qualquer Governo que escolha a austeridade, é porque gosta da austeridade. Não quer beneficiar os mais pobres, só os mais ricos. E passam a ser escolhas de política macroeconómica. Aí é que parece que temos poucos pontos de contacto.
O Governo quis falar com os partidos que quisessem contribuir para a calma política. O Livre é contribuinte ou opositor?
O Livre até seria o maior contribuinte, quer dizer, o Livre não é um partido incendiário na política, certamente, não é um partido que se aproveita de momentos, por exemplo, de calamidade nacional, como vimos ainda há pouco tempo com os fogos, e decide nessa altura cavalgar a onda. Nós falamos acerca de emergências, de calamidades, de catástrofes... Um Governo que diz que quer incluir todos os partidos que contribuem para a acalmia, mas depois escolhe o Chega para ser preferencial em coisas tão importantes como a lei dos estrangeiros e muitas outras - o partido que mais envenena a opinião pública -, não está a falar a sério.
O Livre admite ajudar o PSD a afastar o Chega?
O contributo do Livre será ir sempre a jogo. Por exemplo, ao ministro da Coesão, nós dissemos vamos apresentar um pacote sobre questões de coesão, que vai incluir um rendimento básico de coesão para pessoas que desejem regressar à terra e tomar conta de terrenos. Quando o PSD pegou no passe ferroviário nacional e o transformou em passe ferroviário verde e mais barato, nós dissemos, tudo bem, a ideia era nossa, mas podem roubar à vontade. O Livre vai continuar a ser um partido de oposição. Neste momento, a direita governa, não só o PSD e o CDS, mas o Chega e a Iniciativa Liberal.
Estão no mesmo bloco.
E depois existe o bloco que se lhe opõe. E, portanto, neste momento existe um bloco da direita que esteve de acordo no essencial da lei dos estrangeiros, com aspetos mais restritivos. Mas depois mantêm os benefícios todos para os vistos de gold, quando são estrangeiros ricos, podem ser oligarcas, podem ser o que quiserem, podem estar a encarecer o mercado da habitação, têm todos os benefícios, estão todos de acordo em relação a isso.
O Livre é desde as eleições de maio a segunda força de esquerda no Parlamento. Tem mais força que o BE e o PCP?
Nunca nos comparámos nem em campanha nem agora e não competimos, acima de tudo com o PCP e com o Bloco. Pretendemos ser uma força de cooperação. Como aliás se vê quando falamos de autárquicas, e em tudo o que tem a ver com coligações locais. Queremos roubar votos à Iniciativa Liberal e ao Chega. A melhor coisa que poderia acontecer à democracia era o Livre competir pelo lugar de terceiro partido. Aliás, duplicámos o número de membros e somos já quase quatro mil.