S. João e Amadora Sintra ainda não estão prontos para recusar doentes não urgentes
O projeto "Ligue antes, salve vidas" começou pela Póvoa de Varzim/Vila do Conde porque tinha, ali, "melhores condições". Zonas críticas como o Porto ou Lisboa e Vale do Tejo exigirão "trabalho prévio" e, provavelmente, "soluções diferentes". Quem o admite é o diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, que apresentou, esta quarta-feira de manhã, na Póvoa, o projeto destinado a retirar dos serviços de urgência os mais de 40% de doentes não urgentes que, anualmente, a eles acorrem.
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"Neste momento, estamos a constituir uma Unidade Local de Saúde (ULS) entre o Hospital de S. João e os Agrupamentos de Centros de Saúde (ACeS) Porto Oriental Maia e Valongo. É importante que esta articulação do hospital com os cuidados de saúde primários seja feita a um nível muito íntimo. As respostas têm que ser muito bem articuladas. No caso da Póvoa e de Vila do Conde já tinham feito esse percurso", explicou o diretor executivo do SNS, questionado sobre o porquê de não ter arrancado com o projeto em zonas mais críticas como o S. João - onde na última segunda-feira se viveu "o pior dia de sempre" em matéria de afluência à urgência - ou o Amadora Sintra.
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Fernando Araújo diz que, depois do arranque, hoje, o projeto-piloto vai, agora, ser alargado a outros concelhos "ainda durante o mês de junho".
Inicialmente, a aposta, diz, vai ser por hospitais que têm já trabalho de aproximação aos cuidados de saúde primários feito e onde a cobertura de médicos de família é de 100%. Depois, a ideia é ir tratando das regiões com menos cobertura, "adaptando o modelo em função das necessidades". Também em breve a ideia é alargar o projeto à área pediátrica.
Mais do dobro da média da OCDE
Portugal, explicou o diretor executivo do SNS, que apresentou o projeto no âmbito das Jornadas Sociais Intermunicipais - "Literacia em Saúde para Viver a Vida", tem mais de 500 mil atendimentos na urgência por mês. 40% são triados com pulseira verde ou azul (não urgentes). É mais do dobro da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e já está acima dos níveis pré-pandemia.
Com o novo projeto, pretende-se que a porta de entrada no SNS passe a ser a linha SNS 24 e, em caso de ida à urgência pelo próprio pé, azuis e verdes serão mesmo recusados. Em troca, recebem uma consulta marcada para o seu médico de família no próprio dia ou no dia seguinte e este poderá, até, enviá-lo para uma consulta de especialidade no hospital nas horas seguintes.
A ideia é que as urgências se voltem para os casos mais graves e, nos centros de saúde, se trabalhe "mais para o doente e menos para a burocracia". Por isso mesmo, situações como as baixas e, em breve, a avaliação médica para as cartas de condução terão um outro sistema de emissão, sem obrigar a consulta.