O anúncio da saída de João Cotrim Figueiredo da liderança da IL apanhou o partido de surpresa e levou alguns membros a pedir que as eleições internas não se realizem em dezembro, de modo a dar mais tempo para a formalização de candidaturas. Tiago Mayan, ex-candidato à presidência da República, defende que a eleição ocorra em janeiro e considera que o anúncio da candidatura de Rui Rocha à liderança foi "muito acelerado".
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No domingo, no Twitter, Cotrim Figueiredo justificou que o partido precisa de uma "postura distinta", adotando "uma tónica mais combativa, mais popular" e mais espalhada pelo país. "Considero não ser eu a pessoa ideal para a corporizar", escreveu.
Ao JN, Tiago Mayan, atual presidente da União de Freguesias de Aldoar, Foz e Nevogilde, no Porto, garante que não foi informado previamente da decisão de Cotrim e da candidatura do deputado Rui Rocha, que o líder demissionário apoia. "Tudo o que soube foi através da comunicação social", frisou, acrescentando, com ironia, estar preparado para que haja outras candidaturas sem aviso prévio.
A surpresa de Mayan não foi caso único. No Twitter, o antigo candidato à Câmara de Lisboa, Bruno Horta Soares, também admitiu ter ficado"surpreendido". Paulo Ricardo Lopes, conselheiro nacional da IL, escreveu, no "Observador", que a notícia foi "uma profunda novidade" para a "grande maioria" dos militantes. Também considerou "inevitável" que a escolha do líder seja adiada de dezembro para algures "entre o fim de janeiro e início de fevereiro".
Mayan diz que "tende a concordar". Assim, sugere que a melhor forma de garantir que o partido consegue "respirar" e preparar-se para o debate interno é remarcar a ida às urnas para "meados ou fins de janeiro", fechando a porta a uma candidatura.
Diz que Rui Rocha tem"toda a legitimidade" para avançar, mas critica o facto de se ter chegado à frente logo após a revelação de Cotrim: "Pareceu-me muito acelerado e, nesse sentido, incoerente com os princípios transmitidos pelo presidente para justificar a saída".
Carlos Guimarães Pinto, antigo líder e atual deputado da IL, também não contava que Cotrim antecipasse o fim da sua "liderança de sucesso". "Surpreendeu-me ter feito isto", frisou.
Questionado sobre se defende o adiamento das eleições, respondeu que não se envolve na vida interna do partido. E, instado a comentar sobre se há uma luta de fações na IL, repetiu:"Estou mesmo muito afastado da política interna". Apenas considerou "normal" que, num partido democrático, haja "grupos" com diferentes sensibilidades.
Costa diz que IL vai competir com Chega, liberais negam
O deputado Bernardo Blanco, que já declarou apoio a Rui Rocha, diz fazer "todo o sentido" marcar as eleições para dezembro, de modo a que os mandatos de todos os órgãos comecem e acabem ao mesmo tempo. Admite visões distintas, mas acredita que há tempo de sobra para criar listas. E faz uma comparação: "No Reino Unido, o novo primeiro-ministro teve uma semana para montar um Governo".
Bernardo Blanco nega que a rapidez do anúncio de Rui Rocha signifique que o sucessor já estava escolhido, lembrando que, quando Guimarães Pinto deixou a liderança, assegurou igualmente "uma sucessão de qualidade" - no caso, o próprio Cotrim. "O João, sendo o bom líder que é, também preparou uma sucessão".
"Luta livre no meio do lamaçal"
O primeiro-ministro considerou, esta segunda-feira, que Cotrim Figueiredo vai deixar a liderança da IL para que os liberais passem a"competir com o Chega no estilo de truculência e má educação democrática".
"Percebo que o dr. João Cotrim Figueiredo não se sentisse à vontade nesse estilo de luta livre no meio do lamaçal", afirmou António Costa. "Conheço-o bem, admito que não se sinta bem, foi uma opção estratégica da IL. Não sei porquê, a Direita democrática em Portugal tem um fascínio pelo Chega", acrescentou.
Os liberais repudiaram estas declarações, com Tiago Mayan a considerá-las, em declarações ao JN,"inenarráveis, inconcebíveis e falaciosas". Bernardo Blanco também as refutou, revelando que a equipa de Rui Rocha será, "na sua esmagadora maioria", a mesma que trabalhava com Cotrim. No Twitter, Carlos Guimarães Pinto escreveu: "Costa teve declarações ao seu nível de sempre. Não tem inteligência nem caráter para mais"