Nem todos os elementos das brigadas entrarão nas 1600 instituições. Terão de desinfetar calçado, vestuário e documentos. Idosos estarão de máscara.
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A geração que estava na meia-idade na revolução do 25 de Abril está agora nos lares e quer votar. Dos cerca de 80 mil idosos em instituições, uma grande parte quer votar e os 1600 lares das instituições de solidariedade social e das misericórdias estão preparados para receber as brigadas.
As salas de visita e os espaços onde foram ou serão administradas as vacinas contra a covid-19 são os espaços que, amanhã e depois, receberão as urnas de voto para recolher os boletins dos idosos.
"A maioria destes espaços tem acesso autónomo pelo exterior, o que facilita a entrada das brigadas que vêm recolher os votos", disse Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS). "Há salas, profissionais e idosos com vontade de votar", frisou Manuel Lemos, da União das Misericórdias Portuguesas (UMP). Com 700 lares, as misericórdias têm a seu cargo 40 mil idosos. Em conjunto com a CNIS, que agrega 900 instituições com 38 mil seniores, as entidades respondem por 78 mil eleitores.
"Nem que apenas uma pessoa votasse, o país estaria a mostrar respeito pelos mais velhos ao permitir que pudessem exercer um direito", disse o responsável pela UMP. E continua: "Se as urnas vão aos hospitais e às prisões, porque é que não podem ir aos lares?".
"Em todos os atos eleitorais, as carrinhas das instituições transportavam os utentes até aos locais de votos e, muitas vezes, foram criticadas por isso. Os lares levavam os idosos a votar, porque eles queriam e querem continuar a votar", salientou Lino Maia, frisando que não se trata de "reduzir ou não a abstenção", mas de "garantir os mesmos direitos a todos os cidadãos".
Geração do 25 de Abril
"As pessoas que hoje têm mais idade são as que no 25 de Abril de 1974 estavam totalmente ativas. Viveram a revolução, votaram em massa e participaram nas manifestações. Não podemos dizer-lhes que não podem votar", afirma Manuel Lemos. Depois de meses de confinamento, as eleições "acabam por ser um regresso à normalidade e a prova de que a pandemia não vence a democracia".
Nos lares, os procedimentos para a votação são rigorosos. As equipas vindas do exterior para recolher os votos dos utentes têm de ser reduzidas ao número mínimo. Além das mãos, também o calçado, o vestuário e os documentos serão desinfetados. Dentro da instituição, na sala onde será colocada a mesa de voto, os idosos usarão máscara e os contactos físicos serão reduzidos ao mínimo.
"Não podemos ignorar os apelos de quem quer votar e há muitos idosos que querem votar e que não compreenderiam se não o pudessem fazer", finalizou o presidente da CNIS.
Privados temem pela segurança
"Tenho sérias dúvidas que haja vontade de votar", afirmou João Ferreira de Almeida, da Associação de Apoio Domiciliário, Lares e Casas de Repouso. O responsável pelos lares privados concorda com a intenção de ir às instituições recolher os votos dos mais velhos, mas tem "muitas dúvidas" sobre a adesão. Contudo, a segurança é o principal motivo de preocupação. "Estamos há meses a restringir entradas e, agora, vem um batalhão de pessoas para receber os votos", frisou. Apesar dos cuidados, os lares têm receio de que a covid-19, aproveitando a entrada de pessoas externas à instituição, chegue até aos idosos.