Tiago Pitta e Cunha, presidente da Fundação Oceano Azul.
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Como podemos fazer crescer a economia azul com base na conservação da natureza?
O aumento da consciência por parte da sociedade é altamente oportuno, porque andamos há anos à volta da economia do mar e pouco se fala na riqueza do país em variedade biológica - não é em quantidade de stock pesqueiro, mas em ecossistemas e espécies, algumas bem valiosas. Só vamos conseguir salvar os oceanos se mudarmos a economia do mar e deixarmos de apostar em áreas insustentáveis. Temos de recuperar o planeta e travar as alterações climáticas e a bioeconomia azul é a área que pode cumprir com esses objetivos, sendo não poluente, altamente tecnológica e inovadora, onde a biodiversidade se torna uma vantagem competitiva.
Os investimentos do Portugal 2020 e os que estão previstos no PRR são adequados aos fins da preservação?
Não, não há ainda um investimento massivo com a compreensão do capital natural que o mar representa para a economia do futuro. Percebo que o país não tem um capital ilimitado para ajudar as empresas a serem mais competitivas, mas o PRR podia ser decisivo para alterar este paradigma. A Fundação Oceano Azul integra um consórcio que vai aplicar fundos do PRR na promoção da bioeconomia azul encontrando cadeias de valor, como a integração de algas em têxteis.
Não podemos dar-nos ao luxo de ignorar o oceano?
Não, sob pena de não ficarmos para a História. Se este não for o século da descarbonização, a Humanidade não vai sobreviver. O mar absorve mais de 90% do excesso de calor que resulta dos gases com efeito de estufa e isto equivale a toda a energia produzida pela China num ano. Estamos a adulterar profundamente o maior suporte de vida na Terra e pode ser catastrófico não fazermos a transição para uma economia que não assente em combustíveis fósseis. E já só temos 25 meses para travar o aumento da temperatura além do ponto do desastre.
A resposta está no mar?
Só em energia eólica, temos um potencial desmesurado. Mas as coisas não podem demorar tanto tempo na fase-piloto, em Portugal. O Governo tem de ser mais ágil a eliminar burocracias.