Entre Plano de Recuperação e Resiliência, fundos comunitários e do Estado, há dois mil milhões de euros para mudar a economia para o azul.
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A urgência das alterações climáticas e da perda de competitividade das empresas fustigadas pela pandemia e pela guerra aponta para o mar como resposta. "Andamos há décadas a falar no mar e a dizer que é a nossa maior riqueza. Está na hora de falar menos e fazer mais", diagnosticou Ruben Eiras, secretário-geral da Fórum Oceano - Associação da Economia do Mar. A entidade vai ajudar a gerir fundos do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR)para executar a Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030. A Fundação Oceano alerta que "não há mesmo mais tempo para salvar os oceanos se a Humanidade quer sobreviver" (ler entrevista ao lado).
"Andamos há décadas a falar do mar como ativo estratégico, fazem-se estudos e parece que não saímos do mesmo. O que é que falta afinal para termos uma economia azul? Falta monetizar o mar e de forma sustentável", resumiu o secretário-geral da Fórum Oceano.
A Zona Económica Exclusiva portuguesa é a terceira maior da Europa e a 20.a maior do Mundo, o que significa que o mar que o país administra e de cujos recursos pode dispor representa também uma responsabilidade adicional face aos desafios do aquecimento global e ao investimento que a "bazuca" da União Europeia pode significar para a economia nacional.
Valor da inovação
"Não vai ser fácil, nem rápido, porque investir no mar tem riscos maiores e vamos ter de alterar os setores que, tradicionalmente, vivem do mar", prevê Ruben Eiras. Nessa "corrida de fundo", haverá setores a render mais depressa:"As conservas, os congelados, os preparados industriais e patés à base de pescado".
"O setor tradicional com um modelo de negócio convencional, que não investiu em inteligência de mercado e formação vai deixar de existir, como aconteceu com o têxtil e o calçado que não inovaram", comparou. A boa notícia é que os fundos que o PRR destinou ao mar - 252 milhões de euros - vão ser aplicados "na qualificação e nos modelos de negócio do mar".
Ocusto e o risco de inovar no mar vão ser "parcialmente eliminados com os investimentos nos sete polos de inovação que vão ser instalados nos portos, permitindo acesso fácil ao mar". Além disso, os fundos do PRR vão ser aplicados no programa Blue School, na reabilitação da Escola Naval Infante D. Henrique e modernização da escola profissional FOR-MAR (ler mais ao lado".
"O PRR pode não dedicar muitas verbas ao mar, mas não há falta de dinheiro para investir. Faltam mais bons projetos e não devemos subestimar as novas gerações, os programas de aceleração de startups e tudo o que tem sido criado a pensar na economia azul. De resto, temos o mar e temos as pessoas", apontou Eiras.
Digitalizar o mar
Atualmente, "70% do PIBdo mar baseia-se no turismo - o que é mau, como se viu na pandemia, por isso o futuro do mar deverá contar com áreas mais rentáveis:as energias renováveis, que podem oferecer novos negócios à construção naval, a biotecnologia e a aquacultura".
A cooperação entre universidades, centros de investigação, portos (com os Hub Azul), empresas e serviços, apoiados na digitalização (Portugal Blue Digital Lab) são fundamentais para criar valor e fazer mais com menos. "Uma empresa sustentável mede e analisa processos e, só por isso, é mais competitiva", remata Ruben Eiras.
Do que já fazemos bem
Conservas com história a 10 euros por lata
A Comur, uma marca da empresa Valor do Tempo, já tem 21 lojas onde vende conservas portuguesas a um preço médio de 10 euros por lata. "O que vende é a experiência, a história, não apenas o produto. E isso só é possível com a tecnologia block chain e a digitalização", explica Ruben Eiras.
Balões que não poluem e derretem na água
A jovem equipa portuguesa que venceu o programa da Euronext "The blue challenge" criou a Biolloonys, uma startup que está a desenvolver balões biodegradáveis para diminuir o plástico que acaba no mar e nos ecossistemas. "São miúdos de 16 ou 17 anos com ideias fabulosas. Não podemos subestimar as novas gerações", diz Ruben Eiras.
Fiambre de peixe é saudável e aumenta valor
OProReMar é um projeto cofinanciado pelo Portugal 2020 que desenvolveu afiambrado de pescado, salsichas de pescado e algas e hambúrgueres vegan à base de algas. Usam recursos marinhos pouco explorados e de baixo custo e criam algo de valor acrescentado que é saudável", aponta Eiras.