O sarampo está a propagar-se rapidamente e a OMS já avisou que os casos vão disparar se as lacunas na vacinação não forem corrigidas. Em Portugal, desde janeiro, foram confirmados nove casos e há mais 12 sob investigação. Saiba mais sobre esta infeção viral que ainda mata milhares de pessoas por ano.
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Porque voltamos a falar de sarampo?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de casos de sarampo declarados no mundo aumentou 79% em 2023 para mais de 306 mil casos, face a 2022. Devido ao aumento generalizado de pessoas infetadas, mais de metade dos países do mundo poderão ser classificados como de risco elevado de surto de sarampo até ao final de 2024.
O ressurgimento da doença está relacionado com a diminuição da cobertura vacinal durante o período da pandemia. A prevenção do sarampo implica que 95% das crianças recebam duas doses da vacina, mas a cobertura a nível mundial está nos 83% (abaixo dos 86% de 2019).
Qual é a situação em Portugal?
A Direção-Geral da Saúde (DGS) e especialistas em Saúde Pública garantem que não há razões para alarme. As taxas de vacinação contra o sarampo em Portugal estão acima dos 95%, o que confere imunidade de grupo. Ainda assim, em consequência do que se passa na Europa e no resto do mundo, estão a surgir alguns casos, a maioria importados. Desde janeiro, foram confirmados nove diagnósticos de sarampo e há mais 12 casos sob investigação.
A DGS pede atenção aos profissionais de saúde e recomenda às pessoas que verifiquem os boletins de vacinas para avaliar se a imunização foi cumprida.
De olho na vacinação: porque os bebés não são protegidos mais cedo?
A vacina é a principal arma contra a doença. Em Portugal, o Plano Nacional de Vacinação prevê a imunização das crianças aos 12 meses e aos cinco anos de idade. Há quem pergunte, porquê só aos 12 meses, se as crianças são as mais vulneráveis? A evidência científica indica que os bebés tem uma proteção natural transmitida pela mãe, previamente infetada ou vacinada, mas a duração dessa imunidade já tem sido questionada. Certo é que, depois do bebé completar um ano, esta proteção desaparece e atrasar a vacina eleva a suscetibilidade ao vírus.
Em casos específicos, como uma situação de contacto com casos de sarampo ou de viagem para zonas onde há surtos da doença, pode ser recomendada a antecipação da vacinação, com uma dose entre os seis e os 12 meses de idade ou a antecipação da segunda dose, após avaliação clínica.
Segundo informação disponível no Portal do SNS, uma dose administrada antes dos 12 meses pode não ter a eficácia desejada e por isso é considerada "dose zero", devendo manter-se o esquema de vacinação aos 12 meses e cinco anos de idade.
Se tiver nascido antes de 1970 tenho de me vacinar?
Para os adultos nascidos antes de 1970, não é recomendada qualquer vacina porque viveram em anos de elevada prevalência da doença e, mesmo não tendo tido sarampo, considera-se que já tiveram contacto com o vírus, pelo que estão protegidos. De acordo com o Inquérito Serológico Nacional 2015/2016 cerca de 99% da população nascida antes de 1970 tem proteção contra o sarampo.
E se tiver nascido depois de 1970?
Para os adultos nascidos após 1970, sem história conhecida de sarampo é recomendada uma dose da vacina, administrada aos 12 meses de idade ou mais tarde.
Já os menores de 18 anos de idade, devem ter duas doses de vacina contra o sarampo.
Para os profissionais de saúde, sem história credível de sarampo, o esquema de vacinação português prevê duas doses, independentemente do ano de nascimento, esclarece o Ministério da Saúde.
Posso apanhar a doença se estiver vacinado?
Sim. Durante um surto, pessoas vacinadas podem contrair a doença, porque a proteção conferida pela vacina vai diminuindo ao longo dos anos. Ainda assim, o sarampo em pessoas já vacinadas é mais ligeiro. A possibilidade de complicações clínicas é menor e o doente é menos contagioso para os outros. O dito popular "sarampo, sarampelo, sete vezes vem ao pelo" estará relacionado com esta possibilidade de se contrair sarampo várias vezes, sendo que o "sarampelo" é a forma mais ligeira da doença.
Voltando ao início: mas afinal o que é e como se propaga o sarampo?
O sarampo é uma infeção provocada por um vírus e transmite-se por contacto direto com gotículas infetadas ou pela propagação no ar quando a pessoa infetada tosse ou espirra. As crianças são as principais vítimas desta doença que, habitualmente é benigna, mas pode provocar complicações graves e causar a morte.
Quais são os sintomas?
Os primeiros sintomas são semelhantes a outras infeções virais: febre e mal-estar, seguido de corrimento nasal, conjuntivite e tosse. De seguida, nalguns casos, podem surgir pontos brancos no interior da bochecha, cerca de um a dois dias antes de aparecerem alterações na pele. Depois surgem manchas no rosto que se espalham para o tronco e para os braços e pernas, associado a febre alta e cansaço extremo.