Pescadores de Matosinhos estão a ir pescar para Peniche. Sexta-feira, o cabaz chegou a ser vendido a 440 euros, o que dá 19,50 euros o quilo.
Corpo do artigo
A sardinha pequena e pouco valorizada a norte tem levado muitos barcos a rumar a sul. Anteontem, em Peniche, o peixe rei dos santos populares saiu da lota a 19,50 euros o quilo. Hoje, espera que, com o Santo António à porta, os preços voltem a disparar.
"O peixe está curto e a venda tem sido difícil", explicou o presidente da Propeixe - Cooperativa de Produtores de Peixe do Norte, que agrega 26 barcos da pesca do cerco. Habitualmente, tem os barcos a trabalhar em Matosinhos. Este ano, metade já rumou a Peniche e, os que ficaram, estão a pescar 120 a 150 cabazes, bem abaixo dos 200 limite. Agostinho Mata frisa que não há falta de sardinha; o problema é mesmo o tamanho e isso foi detetado logo no início da safra.
No início de maio, em Matosinhos, o peixe era tão pequeno que a sardinha era considerada "petinga" (peixe bebé) e, à entrada na lota, o limite de captura diário de 140 cabazes baixou para 27. Agora, com os santos populares à porta, já não é petinga, mas é magra e pequena, longe da "sardinha gorda que pinga no pão".
Os preços também não convidam. "Tem andado nos 12 euros por cabaz (22,5 quilos) - ou seja, 53 cêntimos o quilo", explicou o presidente da Apropesca - organização de Produtores da Pesca Artesanal, Carlos Cruz, sediada na Póvoa de Varzim.
O destino, diz Agostinho Mata, tem sido, sobretudo, a indústria das conservas e "alguma, pouca" para consumo. Nos restaurantes - e, em Matosinhos, são muitos os que, nesta altura, têm verdadeiras romarias à sardinha assada - opta-se por tentar comprar peixe vindo de Peniche.
Na quinta-feira à noite, os barcos de Peniche saíram sozinhos para o mar. Com o feriado do Corpo de Deus e as paragens fixas ao fim de semana, os de Matosinhos, da Póvoa e de Vila do Conde que lá andam foram a casa e optaram por ficar em terra.
A "loucura": 440 euros
"Foi uma loucura! Os cabazes foram vendidos a 390 e a 440 euros!", contou Carlos Cruz. Contas feitas, dá sardinha entre os 17 e os 19,50 euros o quilo, ou seja, 1,20 a 1,40 euros por sardinha, dez vezes mais que os 30 a 50 euros por cabaz a que chegou, em 2022, nas vésperas dos santos.
Com um limite de 100 cabazes por barco (que pode, agora, aumentar até aos 200 por decisão das organizações de produtores), uma embarcação pode ter faturado, num dia, 44 mil euros. E, se mais houvesse, mais se tinha vendido. Amanhã é véspera de Santo António e, a pouco mais de 100 quilómetros de Lisboa, Peniche é um dos portos que abastece a festa da capital.
Ontem, os barcos pararam. Hoje, regressam ao mar a partir das 14 horas e há expectativas de boa pescaria e, sobretudo, de boas vendas. Para a pesca do cerco os santos populares são quase sempre sinónimo de Natal antecipado e, este ano, com a sardinha magra a norte, os preços devem disparar ainda mais.
Problemas de abundância não há. "A sardinha está maior e mais valorizada no sul e mais pequena a norte. Costuma ser assim no início da campanha, mas as indicações que temos do último cruzeiro científico é que há muita sardinha. Os dados ainda não estão fechados, mas tanto na sardinha como no biqueirão, o stock mantém-se ou até poderá melhorar", afirmou, ao JN, a secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho.
Preço médio subiu
Em 2022, o preço médio do pescado vendido em lota cresceu 16,2%, passando dos 2,28 para os 2,65 euros, Portugal teve mais quotas de pesca e aumentou as exportações. Os dados, diz a secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho, mostram um setor "pujante e a crescer".
260 milhões
Em breve vão abrir as candidaturas ao Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos, das Pescas e da Aquicultura (FEAMPA). Há 540 milhões de euros, dos quais 260 milhões se destinam ao setor das pescas e 201 milhões à aquicultura, comércio e indústria.