Possibilidades de captura vão ficar este ano acima das 37 mil toneladas. Há negociações entre homens do mar e a indústria para garantir escoamento.
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A frota de pesca de sardinha regressa ao mar em maio e, este ano, haverá mais quase oito mil toneladas para pescar. São 37.358 toneladas. Os pescadores querem tirar o máximo proveito da quota e evitar as imagens de barcos a deitar peixe fora - em dezembro de 2022, a frota foi obrigada a parar por falta de compradores. Por isso, há negociações em curso com a indústria conserveira. A ideia é voltar aos contratos de abastecimento, garantindo o escoamento.
"As capacidades de captura já estão definidas. Temos mais quota e tudo aponta para um ano de normalidade", afirmou, ao JN, o presidente da Anopcerco-Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco, Humberto Jorge.
Em três anos, e depois de meia dúzia de anos "muito negros" para a frota do cerco, que chegou a trabalhar apenas três meses por ano, a quota triplicou. Subiu, 112% em 2021, 9% em 2022 e 27% este ano.
No ano passado, houve já 29 400 toneladas para pescar (a quota mais alta dos últimos dez anos). Houve a procura "das saudades" no início, cresceu nos santos populares e no verão, à boleia da restauração e do regresso do turismo, mas o ano terminou mal para os pescadores. No início de dezembro, com a sardinha a 65 cêntimos o quilo - e, muitas vezes, nem a preços baixos tinha comprador -, todos os dias havia barcos a deitar peixe fora.
A frota parou sem esgotar a quota. Pescaram-se 27 mil toneladas. Indústria e congelação compraram seis mil. É que, nos anos de quotas magras, diversificaram-se produtos - cavala, polvo, bacalhau, lulas -, deixando as conserveiras menos dependentes da sardinha, e procurou-se sardinha em outros mercados, sobretudo Marrocos e Inglaterra.
Negociações
Agora, a quota nacional volta a subir para valores que só encontram paralelo em 2011, mas Humberto Jorge acredita que, neste ano, o cenário de 2022 não se vai repetir.
"Estamos a negociar com a Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP). Queremos retomar hábitos antigos. Foram alguns anos sem quantidade suficiente de sardinha para o abastecimento à indústria. Agora, já justifica e estamos a tentar encontrar a melhor forma", explica Humberto Jorge, confiante no diálogo entre pescadores e indústria.
O objetivo é facilitar o abastecimento da indústria, aumentando a quantidade de sardinha que vai diretamente para as conserveiras, a fim de tirar o máximo partido (e rentabilidade) da quota disponível.
A solução deverá passar pelo regresso dos contratos de abastecimento, assinados entre a indústria e as organizações de produtores, que estabelecem, de um lado, um compromisso de compra, do outro, um dever de venda. "Queremos aproveitar bem a quota que temos", remata o presidente da Anopcerco.
Certificação perdida
Em 2010, a sardinha alcançava o mais alto galardão da pesca sustentável: a certificação do Marine Stewardship Council. Perdeu-o dois anos depois por causa da redução drástica dos stocks e da falta de medidas de proteção do recurso. Agora, deverá recuperá-lo outra vez
"Pesca zero"
Em 2018 e 2019, o Conselho Internacional para a Exploração dos Mares chegou a aconselhar "pesca zero" para Portugal e Espanha como forma de proteger o stock.
Boas notícias
Em 2021, os cruzeiros científicos traziam boas notícias: há 15 anos que não se via tanta sardinha no mar. Entre 2019 e 2021, a quantidade de sardinha no mar cresceu 66%. O recurso dá sinais de que recuperou e em pleno.