Cada vez mais pessoas contratam coberturas de responsabilidade civil e também de saúde, acidentes, bem-estar e até despesas de funeral.
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As principais companhias de seguros a atuar no mercado português notam uma procura crescente por apólices de responsabilidade civil com cobertura para danos causados pelos seus animais domésticos, mais do que as que protegem em caso de acidentes com crianças. Também os seguros de saúde animal, que chegam a cobrir serviço de dog-sitting ou hotel canino, têm mais clientes. Os preços começam em poucas dezenas de euros por ano.
Dois em cada três seguros de responsabilidade civil relativos a menores ou animais vendidos pela Fidelidade são mesmo para proteger de danos causados pelos nossos amigos de quatro patas. A líder de mercado de seguros refere notar uma "procura crescente" deste tipo de seguros em pacote, isto é, responsabilidade civil que cobre eventuais "danos causados a terceiros por todos os membros do agregado familiar, empregados domésticos ao serviço do cliente e animais de companhia (desde que coabitem e não sejam legalmente qualificados como perigosos ou potencialmente perigosos)". Se este tipo de seguros tem "cerca de 27 mil apólices ativas", com um custo desde 21,80€ por ano , as apólices que cobrem riscos de saúde dos animais já são 35 mil.
Adicionar para poupar
"Especialmente focado na medicina preventiva dos animais, para detetar precocemente doenças graves e preservar a saúde do animal de companhia, a Fidelidade disponibiliza também os seguros Pet, que oferecem um check-up periódico, acesso a uma linha de orientação médica sem sair de casa e coberturas abrangentes para cuidar dos animais domésticos", explica fonte da companhia, precisando que o preço-base começa em 29€ por ano e "o valor depende da gama de produto escolhida (Pet Vital ou seguros Pet 1/2/3), bem como do animal de estimação".
No caso das seguradoras do Grupo Ageas (Ageas e Ocidental), as opções mais em conta para os produtos de responsabilidade civil de animais e crianças consistem na contratação dessa extensão (2,7€) nos produtos Casa Segura Multirriscos Habitação (MRH). O seguro de responsabilidade civil familiar, só por si, adianta fonte do grupo, "não tem tanta procura, porque temos outros produtos como os MRH que dão resposta a essa necessidade do cliente".
Na companhia de seguros Tranquilidade, o seguro de recheio de casa também inclui a responsabilidade civil familiar, com capital entre 15 a 100 mil euros, e quem quiser pode "contratar a cobertura de responsabilidade civil cães e gatos, que garante até um máximo de 50 mil euros os danos patrimoniais/não patrimoniais decorrentes de lesões corporais e/ou materiais causadas a terceiros"e que inclui uma componente "saúde animais" com um capital de 300 euros para gastos com medicamentos prescritos pelo veterinário, hospitalização e/ou honorários do veterinário em caso de acidente ou doença súbita e imprevisível do cão ou gato".
Assistência
Proteção adicional em caso de acidente de viação
Nem todos os seguros automóvel incluem os animais em caso de acidente, mas encontrámos três seguradoras que o fazem: a Ageas Seguros (Protec), a Ocidental (Móbis) e a Tranquilidade (seguro Auto). Na Ageas, a assistência em viagem inclui, em caso de avaria ou acidente, o transporte de animais que seguiam no veículo seguro e o pagamento de até 400€ com despesas veterinárias. Na Tranquilidade, o seguro Auto garante as despesas necessárias para o tratamento dos animais que sofram lesão em consequência do acidente.
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Responsabilidade
Os seguros de responsabilidade civil cobrem danos causados pelas pessoas ou animais seguras, geralmente em território nacional, podendo estar associados ao seguro multirriscos da habitação. Neste caso, os prémios são geralmente mais baixos.
Saúde animal
São seguros recentes no país, com menos de uma década de comercialização, e cobrem geralmente desde os atos veterinários básicos (vacina, check-up anual) até despesas de funeral, quando contratadas. A idade do animal conta na altura de contratar, havendo exclusão na maioria dos seguros a partir dos oito anos.
"Tenho poupado muito dinheiro"
Quando Gil Carvalho, um professor de Informática de 49 anos, residente em Vila Praia de Âncora, contratou um seguro para o seu cão Thor em 2014, estava longe de imaginar que este lhe seria tão útil. Três meses depois de o adotar, o animal, arraçado de boxer, ainda bebé (quatro meses de vida), provocou um acidente com um automóvel, que só de danos na viatura resultou numa despesa de 400 euros. O seguro para animais domésticos, Pétis, da Ocidental, pelo qual pagava 110 euros por ano, valeu-lhe, cobrindo a quase totalidade do prejuízo.
Pagou 30 euros, a franquia (valor a cargo do segurado) por cada ocorrência (consultas de urgência, cirurgias e internamentos) ou sinistro. "O Thor, ao ser atropelado pelo carro, também sofreu ferimentos numa pata e esteve internado três dias, porque suspeitavam que pudesse ter alguma hemorragia interna", lembra.
"Se fosse a pagar tudo, na altura não me chegavam 1000 euros. Tive muita sorte. Tinha o seguro há muito pouco tempo", contou Gil, referindo que, nos últimos sete anos, o seu "rapaz", como gosta de lhe chamar, já teve, pelo menos, mais dois episódios dispendiosos, em que a ativação do seguro foi preciosa.
Numa das vezes, durante um passeio, Thor "espetou um pau na barriga e foram mais 250 euros". "Só paguei os 30 euros e o seguro em função do relatório e das fotografias reembolsou", lembra o professor, recordando que, posteriormente, o seu animal foi operado a um tumor numa pata e "foram mais 300 euros".
"Tenho poupado muito dinheiro", confessa, recordando que, na altura em que o contratou, por influência de um amigo, o seguro da Ocidental "era o único no mercado e não tinha período de carência". Neste mês de dezembro pagou 130 euros pela renovação.
"Acho que o seguro animal devia ser obrigatório, além do civil, senão as pessoas acabam por, quando há problemas de saúde, abandonar os cães", defende, comentando: "Ter um animal de estimação sai caro. Consultas, rações, isso tudo. E depois os veterinários cobram preços absurdos. O IVA é 23%. Se a taxa fosse mais baixa, já ajudava. Há um conjunto de coisas que o Estado podia fazer, mas pedem para adotar animais e em contrapartida não ajudam na despesa".
5,8 milhões de animais vivem em casa dos portugueses: 37% são cães e 20% gatos, 12% são pássaros, peixes e outros.
Um membro da família
Gil Carvalho, casado, pai de uma rapariga de 21 anos e padrasto de outra com 18, considera Thor mais "um membro da família".
"Para onde nós vamos, ele também vai. Temos sempre aquela preocupação de não o deixar muitas horas sozinho. Enquanto estamos a trabalhar, o meu pai ou meu tio vêm tirá-lo um bocado para a rua", comenta o professor que, enquanto fala a esta reportagem, não para de elogiar e de afagar o animal.
"É muito meigo, muito brincalhão. É um espetáculo. Quem o conhece adora-o logo. Não é nada agressivo. Tem sete anos e nunca mordeu ninguém. Está sempre à espera que alguém lhe faça festas", conclui, dando por bem empregue o dinheiro gasto no seguro.
Perguntas e Respostas
Qual a vantagem dos seguros de responsabilidade civil para crianças ou animais?
A generalidade dos seguros deste género cobre danos que a criança ou animal tenha causado fora de casa, com limites que vão dos 50 mil euros até perto de um milhão de euros. Podem ter franquia, ou seja, o cliente paga uma percentagem da indemnização.
Alguns destes seguros são obrigatórios?
O seguro obrigatório para animais de raça considerada perigosa não é o mesmo que o seguro de responsabilidade civil, que pode ser feito a qualquer animal, mas não é obrigatório por lei. Já no caso dos seguros de responsabilidade civil, estes cobrem também danos causados a terceiros pelo pessoal que presta serviço doméstico em casa do segurado.
O que cobre o seguro de saúde animal?
Dependendo das companhias de seguros e o produto escolhido, poderão estar cobertos apenas os check-ups anuais e as vacinas, mas também há serviços de consultas ao domicílio, assistência de saúde por telefone, despesas de localização em caso de desaparecimento, guarda em caso de hospitalização do dono, defesa jurídica e funeral, entre outras possibilidades.
Os animais mais velhos podem ser abrangidos?
Normalmente, os animais mais velhos só conseguem seguros de responsabilidade civil, como na Fidelidade, onde só o Pet 1 pode ser subscrito para animais com mais de oito anos. Se tiver um dos outros produtos, não é excluído por chegar aos oito anos.
No caso das crianças, estão abrangidos acidentes em duas rodas ou a praticar desporto?
A prática de desporto está, geralmente, coberta pelos seguros de responsabilidade civil, embora sejam excluídas as modalidades mais perigosas e os desportos motorizados. No caso das bicicletas conduzidas fora da via pública, a cobertura é opcional.
*com Ana Peixoto Fernandes