Ditadura, cristianização e racismo. São algumas das críticas ao novo selo comemorativo da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, lançado pelo Vaticano. Inspirado no Padrão dos Descobrimentos, o selo apresenta a imagem do Papa Francisco no lugar do Infante D. Henrique e com jovens no lugar dos navegadores e está a agitar as redes sociais.
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A imagem motivou muitas reações de indignação no Facebook, no Twitter e no Instagram por parte de vários utilizadores, que assinalaram as semelhanças entre a ilustração presente no selo com algumas imagens publicadas pelo Secretariado de Propaganda Nacional, emitidas durante a ditadura.
"A imagem vem estilizada com um traço e textura infantis para garantir a inocência, ignorando, de forma absurda, todos os problemas subjacentes à cristianização missionária. Mais, repare-se como o único ajoelhado é um menino negro, como se mais uma vez fôssemos cristianizar a África", escreveu Nelson Zagalo, docente na Universidade de Aveiro.
O desenho do selo, lançado conjuntamente com um carimbo comemorativo e com o logótipo da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), é da autoria de Stefano Morri. O selo tem um valor facial de 3,10 euros e uma tiragem de 45 mil unidades. Está a ser usado hoje e amanhã pela agência dos correios "Arco delle Campane", na Praça de São Pedro, em Roma, Itália.
"É só um selo, não é? Não sei quem é o designer, Stefano Morri, mas sei que de certeza não conhece Portugal e não faz ideia do peso histórico de uma certa imagética", referiu Luís António Santos, professor na Universidade do Minho.
A jornalista Mafalda Anjos, no Twitter, usou a ironia. "Por acaso, foi uma ideia genial ir buscar a imagem para o selo da JMJ aos arquivos do Secretariado de Propaganda Nacional e meter o logo ali no cantinho".
Por acaso foi uma ideia genial ir buscar a imagem para o selo da JMJ aos arquivos do Secretariado de Propaganda Nacional e meter o logo ali no cantinho. ♀️ pic.twitter.com/mmBoVDwDre
- Mafalda Anjos (@manjos) May 15, 2023
Na explicação dada para a elaboração do selo, os serviços do Vaticano informaram que "da mesma forma como o timoneiro D. Henrique lidera a tripulação na descoberta do novo mundo, assim também no selo do Vaticano o Papa Francisco conduz os jovens e a Igreja".