Coordenadores de projeto-piloto da semana de quatro dias lançaram um kit para as empresas que pretendam experimentar um horário semanal mais curto de trabalho.
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Pedro Gomes e Rita Fontinha foram os coordenadores do projeto-piloto levado a cabo pelo Governo socialista de António Costa, em 2023, para implementar a semana de quatro dias de trabalho. Terminada a iniciativa, os dois investigadores lançaram um kit de iniciação para as empresas que querem encurtar a semana de trabalho, mas não sabem como. “Já não é tanto uma fase para incentivar, mas sim de experimentação”, aponta Pedro Gomes.
No verão de 2023, 41 empresas participaram no projeto-piloto do Governo PS e mais de 80% decidiram manter o modelo após o fim da iniciativa, uma vez que verificaram melhorias nos locais de trabalho, nomeadamente uma diminuição do stress e do absentismo.
Conscientes de que há empregadores interessados, Pedro Gomes e Rita Fontinha, então coordenadores do projeto-piloto de 2023, decidiram lançar um “starter pack” sobre a semana de quatro dias. “É uma compilação de todo o material que nós construímos ao longo do projeto-piloto, como as gravações das sessões e reuniões”, explica Pedro Gomes.
Avaliar o bem-estar
O economista aponta que qualquer empregador que queira hoje começar a implementar a semana de quatro dias tem de “começar do zero”, pois “não existe material disponível” e as associações empresariais “têm-se mantido à margem” do tema. A criação de um kit para as empresas é uma forma de preencher essa lacuna.
Para aceder aos conteúdos, as empresas não têm de pagar, mas comprometem-se a participar na investigação académica de Pedro Gomes e Rita Fontinha sobre o assunto.
Depois de entrarem em contacto com a equipa do “starter pack da semana de quatro dias”, através do site da iniciativa, os gestores e os investigadores poderão concluir de que não será uma boa ideia encurtar a semana de trabalho. “Em alguns casos, poderá não ser adequado experimentar, seja porque as empresas não estão na melhor situação ou não têm problemas”, diz Pedro Gomes.
Através de questionários preenchidos de forma anónima pelos trabalhadores sobre o bem-estar, os dois investigadores conseguirão avaliar o impacto da semana de quatro dias. As empresas que não avançarem com a semana mais curta vão funcionar como um grupo de controlo. “Continua a haver desenvolvimento sobre a semana de quatro dias, mas vai ser um processo longo”, admite o também professor de Birkbeck, da Universidade de Londres.
Ainda antes de começar o projeto-piloto do PS, já havia empresas que tinham encurtado a semana de trabalho. Foi o caso do Cartório Catarina Martins, em Amarante, e da tecnológica Nmbrs, em Lisboa. Ambas mantêm a semana de quatro dias.
Férias ilimitadas
“Os benefícios”, refere a responsável do cartório, Catarina Martins, são a maior “qualidade de vida para os colaboradores, os menores riscos de doenças mentais e o menor risco de burnout”. A Nmbrs aponta que a semana de quatro dias, implementada em 2022, tornou-se permanente após um ano. “Ainda mantemos o modelo e agora penso que não hávolta a dar”, disse fonte da tecnológica.
Para Pedro Gomes, a importância do debate da semana de quatro dias está na reflexão sobre a forma como se trabalha: “As empresas experimentam, avaliam, depois fazem ajustes e voltam atrás”.
A Onya Health, agência de publicidade especializada em saúde, participou no projeto-piloto do Governo PS, mas revogou a semana de quatro dias em 2025. A empresa implementou o “sistema de férias ilimitadas”, dando a liberdade aos trabalhadores para tirar dias para “descansar, resolver problemas pessoais ou tratar de burocracias”.
Depois do projeto-piloto, o Centro de Telecomunicações e Multimédia do INESC TEC teve uma nova fase experimental até ao fim de 2024. Neste momento, o modelo dos 4 dias está em avaliação.
Governo dos Açores estuda projeto
O JN questionou os ministério do Trabalho e o da Presidência sobre se estaria em cima da mesa um projeto-piloto da semana de quatro dias na Função Pública, mas não obteve resposta. Já o Governo regional dos Açores, da coligação PSD/CDS/PPM, aguarda as conclusões de um grupo de trabalho para implementar a semana de quatro dias na Administração Pública Regional. Não está prevista a aplicação no privado.