Federação Académica do Porto propõe semana de quatro dias já no próximo ano letivo
A Federação Académica do Porto (FAP) enviou, esta terça-feira, uma carta aberta às Instituições de Ensino Superior do Porto a apelar à implementação da semana académica de quatro dias já no próximo ano letivo. Acreditam em benefícios económicos, sociais e, principalmente, ao nível da saúde mental dos alunos.
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A proposta, que a FAP defende pelo menos de 2023, tem respaldo num inquérito feito aos alunos, em colaboração com o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto. Segundo os resultados apurados, 80% dos estudantes da Academia do Porto identificam benefícios ao nível da saúde mental, da motivação, da concentração, bem como uma melhor gestão entre a vida pessoal, familiar e académica na adoção de uma semana académica de quatro dias.
"Portugal está entre os países europeus com maior carga horária em sala de aula. Em média, os estudantes portugueses têm mais 21 horas semanais de atividades letivas do que a Alemanha, Reino Unido ou Itália, e o dobro da Suécia", disse o presidente da FAP, Francisco Porto Fernandes. "Um estudante a tempo inteiro, num curso de licenciatura, dedica cerca de 50 horas por semana às atividades académicas, muito acima das 40 horas de trabalho", acrescentou.
"O que aqui chamamos a atenção não é de um ponto de vista de facilitismo, ou seja, nós não estamos a dizer, ai, os estudantes coitadinhos", sublinha Francisco Porto Fernandes. "O que estamos a dizer é que, por um lado, o tempo tem de ser melhor aproveitado, ou seja, há muito tempo dentro de sala de aula que não é eficiente, e que depois seria muito importante concentrarmos as aulas em apenas quatro dias", acrescentou o líder da FAP.
Segundo Francisco Porto Fernandes, uma semana académica de quatro dias permitiria também aos alunos "responder socialmente" de forma mais adequada. Dada a crise do alojamento, há muitos alunos da Academia portuense que vivem noutras cidades e fazem deslocações diárias, alguns de duas a três horas. "Não resolve a crise do alojamento, mas promove mais equidade social. Quando os estudantes por motivos económicos são obrigados a fazer muitas viagens todos os dias, ao terem menos um dia de aulas, é menos um dia em que perdem tempo em viagens e que podem investir a estudar ou como bem entender", defendeu.
O inquérito referido incidiu sobre aspetos relacionados com a saúde, equilíbrio familiar e disposição para atividades diárias. Sete em cada 10 estudantes referem sentir-se mais motivados, com mais energia e maior capacidade de conciliar os estudos com a vida familiar, quando ponderam a hipótese de uma semana de quatro dias no ensino superior. Sobre a capacidade de concentração e qualidade do sono, aspetos que se encontram interligados, seis em cada 10 consideram que esta medida seria bastante positiva.
Na área da saúde mental, o impacto seria igualmente notado. Mais de metade dos estudantes acredita que a semana de quatro dias pode contribuir para a redução de stress, ansiedade e sintomas de depressão. "O ponto que mais me preocupa, ano após ano, é mesmo o bem-estar psicológico dos estudantes, não só do Porto, mas do país inteiro", disse Francisco Porto Fernandes. "Queremos ser parte da solução e apresentar medidas que possam prevenir o desenvolvimento destes problemas de saúde mental. A semana de quatro dias é uma destas medidas, mas há também a aposta no desporto e a prática da atividade física, assim como o reforço de psicólogos nas nossas instituições", acrescentou.
O inquérito, realizado entre os dias 28 de maio e 30 de junho, obteve 1824 respostas consideradas válidas. Entre os inquiridos, 68% encontram-se a frequentar cursos de licenciatura, onde a carga horária tende a ser mais elevada. Do total dos respondentes, 60% estão inscritos na Universidade do Porto, 30% no Instituto Politécnico do Porto, 4% na Escola Superior de Enfermagem e os restantes 6% frequentam instituições do Ensino Superior Privado ou Cooperativo.
Francisco Porto Fernandes lembrou que a FAP, desde 2023, que leva a semana de quatro dias às instituições de Ensino Superior e ao Governo. "Este ano, decidimos que, em vez de apelarmos à tutela, enviar à comunidade orgânica, ou seja, escola e faculdade uma carta aberta a apelar para a concentração da jornada letiva em quatro dias", disse aquele dirigente estudantil, negando que haja uma relação entre esta mudança e o polémico anteprojeto de revisão da legislação laboral, que esquece a semana de quatro dias, que até já é aplicada em algumas empresas. "É uma questão de convicção. Desde 2023 que a FAP acredita neste caminho e, portanto, independentemente de qual for o governo e quais sejam as suas políticas, vamos lutar pelas nossas convicções", argumentou.
Enviada a carta, a FAP está disponível para conversar com cada faculdade e, através da sua associação de estudantes, fazer com que esta semana de quatro dias seja possível. "Estamos muito confiantes em que, pelo menos, uma ou outra faculdade possa já este ano ter uma semana de quatro dias", disse Francisco Porto Fernandes. "Não há setor do país que tenha mais a obrigação de explorar a semana de quatro dias e de mostrar que pode ter um futuro em todas as áreas do nosso país, como o Ensino Superior e a ciência, porque temos de estar na vanguarda", disse, lembrando que as instituições de ensino superior têm total autonomia para organizarem os seus horários como assim o pretendem".
Francisco Porto Fernandes lembra que a Faculdade de Direito da Universidade Católica, no Porto, na maior parte dos anos "já tem uma semana de quatro dias" e que também no Ensino Secundário o modelo parece ter resultados. "Existem em algumas escolas turmas que só têm quatro dias de aulas e sabemos que os resultados normalmente tendem a melhorar quando existe esse dia livre", acrescentou.