Estudo da OCDE revela que jovens portugueses são dos que têm menos energia, um facto que deve ser "sinal de alarme" para escolas.
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Os estudantes de 15 anos são menos curiosos, otimistas e confiantes do que os colegas de 10 anos. A conclusão é de um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre as competências sociais e emocionais de milhares de alunos em 10 cidades de todo o Mundo, incluindo 6000 em Sintra, Portugal. Os resultados nacionais são apresentados esta sexta-feira.
Em Sintra, à semelhança do verificado nas outras cidades que participaram no estudo, os jovens com 15 anos exibiram níveis inferiores aos dos 10 na maioria das competências sociais e emocionais, sendo que as diferenças são particularmente pronunciadas quando se trata de otimismo, confiança, energia e sociabilidade. Os mais velhos revelam melhores níveis de autocontrolo, controlo emocional, empatia, cooperação, tolerância e assertividade do que os mais novos e, geralmente, em melhores níveis do que a média internacional.
Com a idade, há decréscimo, também, a nível da criatividade e da curiosidade, assim como da persistência, em Portugal e nas restantes nove cidades, um dado que os investigadores a nível internacional relevaram por estas competências serem importantes para o sucesso académico.
Para se ter bons resultados na escola, "não basta inteligência e um bom contexto educativo, é preciso um conjunto de outras competências e uma que se destaca é a curiosidade, a vontade de descobrir coisas novas. É fundamental e um dos principais preditores do sucesso académico", confirma Pedro Cunha, diretor do Programa Gulbenkian Conhecimento, fundação que dinamizou este estudo em parceria com o Ministério da Educação e a autarquia de Sintra.
O especialista diz que "há flutuações naturais" e "não é expectável que todas as nossas competências sociais e emocionais cresçam sempre de forma positiva e linear". Sem apontar o dedo à escola, admite, contudo, que pode jogar um papel importante e são necessárias melhorias. "Não faço uma relação direta, mas isso não quer dizer que o nosso sistema educativo não precise de pensar se quer insistir em ter as crianças sentadas, quietas e caladas, durante 12 anos de escolaridade, para depois chegarmos ao final e descobrirmos que são pouco criativos ou que comunicam mal ou não têm grande capacidade de resolver problemas".
Pedro Cunha sublinha que "temos dos jovens de 15 anos menos otimistas, com menor resistência ao stress e energia de todas as cidades estudadas". Ou seja, "temos um nível baixo de bem-estar nas nossas escolas e isto é um sinal de alarme, pois ninguém aprende se não estiver bem". O estudo confirma que há "diferenças muito marcadas no género", sendo que se registou um decréscimo de algumas competências "maior nas raparigas do que nos rapazes", que poderá ser explicado "com o facto de as raparigas serem mais autocríticas". Sublinha, também, "o peso brutal que as condições socioeconómicas ainda têm dentro dos próprios alunos. Quanto mais baixo o estatuto socioeconómico, menos os alunos acreditam que são capazes de chegar longe".