Positividade nos 19,1%. País devia triplicar testagem. Faixa 18-24 anos a subir. Pedido fecho de escolas.
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É um número nunca visto. E sempre a subir: um em cada cinco testes feito à covid-19 dá positivo. Um "sinal de descontrolo" da pandemia em Portugal, avisam os peritos. Com a atual incidência, devíamos estar já a triplicar a testagem, para não deixarmos escapar, todos os dias, milhares de infetados. E com a incidência na faixa etária dos 18-24 e 13-17 a preponderar, urge fechar as escolas.
"A taxa de positividade está mais alta do que nunca. Medida a sete dias, está nos 19,1%. E continua a subir. É uma loucura". Assim revela, ao JN, Óscar Felgueiras, matemático especialista em epidemiologia da Universidade do Porto. Para quem "está a falhar tudo; o rastreio de contactos, com milhares de inquéritos epidemiológicos atrasados". A Associação dos Médicos de Saúde Pública estima, por baixo, 15 mil em atraso.
Para o também matemático Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências de Lisboa, "é sinal de descontrolo da pandemia". Recordando um dado da Organização Mundial de Saúde: para manter a pandemia sob controlo, a taxa de positividade deve estar abaixo de 5%. Na mesma linha, Filipe Froes, coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos, fala em "descontrolo, que deve fazer questionar se a capacidade de testagem está ao nível necessário para a situação epidemiológica".
Não está, diz Carlos Antunes, defendendo que, nesta altura, devíamos estar, "idealmente, a triplicar a testagem, ou, no mínimo, a duplicar". E desmonta: "Antes do Natal, com 250 mil testes/semana estávamos a detetar 3500 casos em média, então com dez mil deveríamos estar a testar entre duas a três vezes mais. Mas, por enquanto, só estamos com 343 mil/semana".
O que explica que para uma "incidência atual de 9400 novos casos diários, a estimativa seja de 11900 casos reais". Diferencial este de diagnóstico, diz, que "tem vindo a aumentar e é sinal de perda de controlo do sistema".
Ou seja, todos os dias há 2500 positivos que não estão a ser apanhados. Fazendo com que os 10 a 11 mil casos detetados diariamente deem a sensação de estagnação. "Claramente não é o caso, porque não há abrandamento nos internamentos", diz Óscar Felgueiras.
Fechar escolas, já!
Os dados são novos e não estiveram em cima da mesa da última reunião no Infarmed. A equipa de investigadores da Faculdade de Ciências de Lisboa foi perceber a incidência por faixas etárias mas com foco nas idades escolares. Apurando que a mais alta incidência acumulada está nos 18-24, com 1154 casos a 14 dias por 100 mil habitantes (dados a 17 de janeiro). Seguindo-se os 25-65 (1290) e os 13-17 (1167). O nível mais baixo está nos menores de 5 anos (713) e no grupo dos 6-12 (912).
Ou seja, defendem em uníssono, o Governo devia fechar, pelo menos, as escolas a partir do 3.º Ciclo (12 anos em diante). Tanto mais que, explica o investigador da Escola Nacional de Saúde Pública, Vasco Ricoca Peixoto, "nas faixas mais novas a subdeteção é maior, porque a doença é mais ligeira e mais assintomática". Pelo que não entende a decisão governamental, uma vez que "tira força às medidas ter as escolas abertas".
A Ordem dos Médicos vai mais longe e quer um confinamento geral, como em março/abril, porque os profissionais "não conseguem salvar todas as vidas". Segundo Filipe Froes, também pneumologista, "perante a gravidade da situação devíamos fechar todo os setores e depois abrir, de foram faseada, duas a quatro semanas, com os grupos etários de menor incidência". Com dois pressupostos: "Monitorizar e testar".
Número
225 óbitos estimados por Carlos Antunes para meados de fevereiro. A 28 de janeiro passamos os 14 mil casos, com pico de internamentos a 7-12 de fevereiro: 5940 e 830 nos intensivos.