O Sindicato Independente dos Médicos aconselhou, esta quinta-feira, os médicos de família a não se deixarem "iludir" por uma "cenoura murcha e desbotada".
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Foi esta a forma irónica que encontrou para classificar a intenção do Ministério da Saúde de dar mais dinheiro aos médicos que, voluntariamente, aceitem ter mais utentes nas suas listas.
"Não é difícil ver quem se pretende que seja o burro nesta história", diz o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) no comunicado publicado no seu site, e intitulado "A história do burro e da cenoura revisitada".
"Os médicos de família já estão no limite da sua capacidade de oferecerem cuidados de qualidade aos seus doentes. Por isso é que os sindicatos médicos não cederam na negociação da grelha salarial para o novo regime de 40 horas semanais, não abdicando do limite de 2358 unidades ponderadas/1900 utentes", lê-se, referindo-se ao facto de, juntamente com a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), o SIM ter recusado a aceitar a proposta do Governo que esteve em discussão nos últimos meses.
Como o JN escreveu na edição desta quarta-feira, Paulo Macedo vai mesmo avançar com a medida de dar mais dinheiro aos médicos que, voluntariamente, aceitem alargar as suas listas de utentes: nos casos dos que estão em 35 horas, o despacho em discussão pública prevê que as listas possam ir até 2356 unidades ponderadas (o equivalente a cerca de 1905 utentes) e os que estão em 40 horas poderão ir até às 2796 unidades (o equivalente a 2261 utentes, e não os 2500 que, por lapso, o JN escreveu, e que foi o primeiro valor a estar em cima da mesa de negociações).
Para convencer os médicos a aceitar acompanhar mais cerca de 300 utentes do que seguem atualmente, o Governo acena-lhes com um complemento salarial mensal que pode ir até aos 741,3 euros brutos. Valor que, após impostos, "baixa para cerca de 350 euros", razão pela qual a Ordem dos Médicos e os sindicatos não acreditam que esta medida venha a surtir grande efeito.
A noticia de que o Governo vai avançar com esta medida à revelia dos sindicatos levou o SIM a emitir este comunicado aos seus associados, desaconselhando-os "a serem iludidos por esta cenoura murcha e desbotada", e insistindo que esta medida irá pôr em causa a qualidade dos cuidados de saúde aos doentes.