O Serviço Nacional de Saúde (SNS) vai aceitar a doação de cerca de 500 mil testes rápidos de antigénio oferecidos pela Cruz Vermelha Portuguesa (CVP). O anúncio foi feito pela ministra da Saúde, Marta Temido, que avançou que "o Governo está a avaliar a aquisição" destes testes. A ideia é usá-los para conter surtos em lares.
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Recorde-se que a oferta foi feita em setembro, mas estava a aguardar a validação. Segundo a ministra, os testes vão chegar de forma faseada - os primeiros cem mil serão entregues na primeira semana de novembro. Na mesma altura em que deve entrar em vigor a norma "Estratégia Nacional de Testes para a SARS-CoV-2", da Direção-Geral da Saúde (DGS), sobre a utilização, que deve ser publicada já este fim de semana.
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A CVP já começou entretanto a testar com estes kits. Até ontem, tinham sido efetuados "3868 testes de pesquisa de antigénio" e destes 175 apresentaram resultado positivo, posteriormente comunicados à DGS", informou, em resposta ao JN. Quando anunciou a oferta, a CVP disse que os testes se destinavam à utilização em lares e escolas. A governante adiantou que serão utilizados em contexto de surtos nos lares de idosos - ontem havia 107 ativos nestas estruturas.
Falta de consenso
O uso dos testes rápidos de antigénio em situações de surtos, como os dos lares, ou em grupos restritos de pessoas, é o mais consensual entre os especialistas e entidades ouvidas pelo JN. O uso generalizado já não recolhe uma posição unânime. "São muito bons a detetar positivos no pico da infeção", adianta a patologista Mafalda Felgueiras, acrescentando que, fora dessa janela temporal - de quatro a cinco dias -, a eficácia não é tão elevada. Defende, por isso, que os testes com resultados negativos devem ser confirmados pelo recurso ao teste padrão (PCR).
Usar os testes em pessoas sem sintomas e histórico de contactos com infetados, em aeroportos ou escolas, não é eficaz. Porém, caso se trate de um surto num lar, por exemplo, é possível saber em 15 minutos quais os positivos, que podem ser isolados de imediato, e realizar os testes padrão aos restantes. "São um complemento aos testes PCR", frisa.
Só com sintomas
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"Só devem ser utilizados nas situações de pessoas sintomáticas, nos primeiros cinco dias. Mas são úteis em todas as situações em que não há capacidade de fazer um PCR de forma rápida desde que haja sintomas" acrescenta Germano de Sousa, administrador do grupo laboratorial com o seu nome.
O ex-bastonário da Ordem dos Médicos sublinha que o teste só deve ser realizado por profissionais de saúde, pois há risco de a amostra não ser recolhida de forma correta. Por outro lado, alerta para os casos em que pode falhar a notificação para as autoridades de saúde.
Christian Rebhan, diretor médico do grupo Unilabs Internacional, destaca que "desde que usados corretamente, os testes de antigénio são mais uma arma para combater a covid-19". Mas avisa que não são aconselhados "para rastreios populacionais globais, dado o elevado nível de falsos negativos que pode criar falsas sensações de segurança".
Onze testes no infarmed
Segundo o site da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), até 14 de outubro, estavam registados 11 testes de antigénio em Portugal. Os laboratórios não precisam de autorização, mas têm de ter a certificação europeia (CE). Os 11 requerem a utilização por um profissional.
Questionada sobre a disponibilização destes equipamentos pelas farmácias comunitárias, a Associação Nacional de Farmácias (ANF) adianta que "os farmacêuticos estão habilitados a fazer estes e outros testes profissionais, assim com a proceder à sua dispensa para utilização por outros profissionais de saúde, em instituições de saúde ou do setor social".
E há clínicas e farmacêuticas que estão a realizar o testes a clientes individuais e empresariais. Uma delas é a Biojam. Carlos Monteiro, administrador-executivo, rebate as críticas e admite a realização de PCR apenas em pessoas com teste de antigénio negativo que apresentem sintomas coincidentes com a covid. Sem revelar números, adianta que a farmacêutica já foi chamada por empresas para testar os funcionários. "O caminho é testar, e mesmo que existam falsos negativos, vamos todos ficar mais protegidos".
Testes para os mais vulneráveis e funcionários
As câmaras municipais de Vila Viçosa e de Leiria anunciaram que estão a comprar testes rápidos para apoiar as populações mais vulneráveis, como os residentes dos lares, funcionários das instituições e dos próprios municípios. Entretanto, a Autarquia de Lisboa aprovou uma moção para a aquisição destes equipamentos para testar professores, alunos e auxiliares da comunidade escolar.