Das 972 183 doses administradas até 4 de março em Portugal, houve 2284 notificações no Infarmed. Especialistas explicam que efeitos secundários são proporcionais aos da imunização contra a gripe. Regulador identifica seis mortes após inoculação, mas assegura que não estão relacionadas.
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Até 4 de março, a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) recebeu 2284 notificações de reações adversas às três vacinas contra a covid-19 administradas em Portugal, num total de 97 2182 doses. Os dados mostram que 1029 notificações (45%) foram consideradas graves, mas representam apenas 0,1% do total de vacinas. Na quinta-feira, Portugal anunciou que na segunda-feira será retomada a imunização com a vacina da AstraZeneca, uma semana após ter anunciado a suspensão, e depois de a Agência Europeia do Medicamento (EMA) ter garantido a segurança da inoculação.
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Os dados do Infarmed dão conta de seis mortes ocorridas após a vacinação "maioritariamente em idosos", com uma média de idades acima dos 80 anos. Mas, frisou o regulador, "estes casos foram avaliados e em nenhum deles se estabeleceu uma associação direta entre a administração da vacina e o óbito".
A base de dados europeia sobre notificações de reações adversas (EudraVigilance), que tem números mais atualizados (até 13 de março) dá conta de 2498 notificações de reações adversas à vacina da Pfizer/BioNtech, 84 à da Moderna, e 202 à da AstraZeneca em Portugal. O que significa um acréscimo de 500 casos em nove dias. Mas não discrimina as consideradas graves.
"Basta ser incapacitante "
De acordo com a classificação internacional, "a gravidade de uma reação adversa" não tem de pôr em risco a vida da pessoa. "Basta que seja incapacitante", explicou Hélder Mota Filipe, professor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. "Alguém que precise do braço para trabalhar e a dor não permita desempenhar essa tarefa", exemplificou o ex-presidente do Infarmed.
Jorge Polónia, coordenador da Unidade de Farmacovigilância do Porto, sediada na Universidade de Medicina do Porto (FMUP), sublinhou, por seu lado, que como cada país priorizou de forma diferente a população a vacinar, nem sequer é possível comparar se há maior percentagem de reações adversas entre países. Além disso, assegurou, "nenhum caso" de reações adversas "foi atribuído de forma segura às três vacinas" até agora em uso na Europa.
Os especialistas garantiram que o perfil de reações adversas destas inoculações não são diferentes dos de outras vacinas, como as da gripe sazonal. "A proporção é a mesma e o tipo [de reações] é o mesmo. Isto não tem nada a ver com a vacina", acrescentou Jorge Polónia.
Já sobre os casos de tromboembolismo venoso, atribuídos à vacina da AztraZeneca, o também professor da FMUP, disse que são detetados após a toma de outras vacinas: "São resultado da própria doença do paciente".
Vacinas são "a única arma"
Questionado sobre se as dúvidas levantadas à vacina da AstraZeneca/Oxford poderá afetar o processo de vacinação, Hélder Mota Filipe admitiu "temer que sim". Mas lembrou que "a única arma" contra a pandemia são as vacinas. "Se as pessoas não confiarem, nunca mais a gente a resolve".
Jorge Apolónia alertou que a vacina é a "única solução que temos" e a "explicação possível para o número de mortes, casos e internamentos estar a diminuir". "As vacinas reduzem as principais complicações da doença covid. Têm muitíssimo mais vantagens que os potenciais inconvenientes", garantiu o investigador.