Militares são os mais convocados. Governo optou por privilegiar profissionais de saúde, incluindo estudantes e aposentados.
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Até ao momento, só 18 professores sem componente letiva atribuída foram mobilizados para apoiar nos inquéritos epidemiológicos de covid-19. Um número bem longe dos 128 que o primeiro-ministro, em novembro, admitiu serem convocados. Além dos docentes, António Costa tinha apontado mais 915 funcionários públicos. Mas, no total, de acordo com dados enviados ao JN pelo Ministério da Saúde, foram chamados 692 - professores, militares (que são a maioria, 369), técnicos superiores e assistentes técnicos (149), estudantes de Medicina e de Enfermagem (137) e médicos e enfermeiros aposentados (66).
Com os hospitais a entrar em rutura com o número de internamentos a aumentar, a capacidade de rastreio ajuda a travar as cadeias de transmissão. O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública frisa que este reforço é "fundamental".
Duas horas diárias?
"O apoio dos militares tem sido muito importante, mas é insuficiente para as necessidades", sublinha Ricardo Mexia, garantindo ter recebido informação de que alguns funcionários terão sido mobilizados por "duas horas diárias" e não a tempo inteiro.
A mobilização de apenas 18 docentes não surpreendeu o presidente da Associação Nacional de Diretores (ANDAEP). Filinto Lima explica que os professores com "horário zero" são os primeiros a ser colocados nas reservas de recrutamento para substituir baixas, pelo que os 128 invocados pelo primeiro-ministro terão diminuído desde novembro.
Mário Nogueira (Fenprof) sublinha que estes professores, apesar de não terem turma atribuída, asseguram funções essenciais nas escolas como apoios, coadjuvações ou substituição de docentes em isolamento.
"São anúncios que parecem evaporar-se, tal como o dos testes rápidos nas escolas, de que nada sabemos", insiste Filinto Lima, defendendo que, se a intenção é manter as escolas abertas no novo confinamento geral, então os testes rápidos têm de passar a ser uma realidade e professores e funcionários devem ser integrados na primeira fase de vacinação. "Nesse caso, também estamos na linha da frente".
O Ministério da Saúde garante que este envolvimento de outros profissionais permitiu "reforçar a capacidade de resposta dos departamentos e unidades de Saúde Pública". A mobilização foi feita "em função das necessidades locais identificadas". E a Direção-Geral de Saúde tem avaliado o reforço dos recursos humanos, em articulação com os centros de saúde (ACES) e administrações regionais (ARS), "em função do perfil de competências, facilidade de formação e início rápido de funções".
O processo de mobilização começou por privilegiar "outros profissionais de saúde dos ACES e ARS, médicos internos de formação geral e formação específica, estudantes de medicina e de enfermagem, a que se somam, num segundo momento, sobretudo militares, técnicos superiores e assistentes técnicos da administração pública", explica o Ministério.