Vítima do acidente em França só não veio de avião por ter cartão de cidadão caducado

Inês, 17 anos, esqueceu-se de renovar o cartão de cidadão e teve de recorrer a transporte alternativo
Henriques da Cunha/Global Imagens
Vestida de negro da cabeça aos pés, olhos marejados pela dor, Evelina Francisco, 41 anos, era este sábado uma mulher destroçada pela perda da sobrinha - Inês Isabel Rodrigues Francisco, de 17 anos -, uma das 12 vítimas mortais do acidente que ocorreu na quinta-feira à noite, perto de Lyon, em França.
"A minha sobrinha não merecia isto", desabafou, ao JN, à entrada de sua casa, na localidade de Vicentes, concelho de Pombal.
Inês tinha ido passar uns dias de férias com o pai, emigrado na Suíça, e um infeliz esquecimento fez com que tivesse de optar pelas carrinhas de transporte para regressar a Portugal. "Ela viaja sempre de avião, ou de carro com o pai. Desta vez apercebeu-se tarde de que tinha deixado caducar o cartão de cidadão e teve que optar por esse transporte. Mas, pelo que disse à prima, quando viu a carrinha não queria vir, tanto que foi a última a entrar", contou Evelina.
A estudar na Escola Tecnológica, Artística e Profissional de Pombal, na área da restauração, a jovem "adorava o curso" e "estava supercontente por voltar para passar a Páscoa" com a família que praticamente a criou a viu crescer, pelo menos até aos 14 anos, antes de ir para a Suíça estudar.
Quando acabou os estudos lá, continuou a sua formação em Portugal. "Era uma pessoa muito alegre e divertida e onde ela estava ninguém estava triste. Ainda não acredito que isto seja verdade", adiantou a tia, com o rosto marcado pela emoção.
Bancos na zona de carga
Segundo Evelina Francisco, a sobrinha vinha numa das quatro carrinhas que transportavam emigrantes da Suíça, e que "trazia um atrelado com as malas" de todos os passageiros. Pelo que soube, as viaturas, originalmente de mercadorias, teriam sido adaptadas para transporte de pessoas, com a colocação de bancos na zona de carga. Por viagem, os transportadores cobravam "entre 150 a 200 euros".
Depois de passar por França para reconhecer o corpo da filha, o pai de Inês chegou ontem a Pombal, para tratar da transladação do corpo, mas ainda não tinha a confirmação de quando seria libertado pelas autoridades francesas, nem que tipo de apoio teria por parte das entidades portuguesas. De qualquer forma, os familiares da jovem contam realizar o funeral, em Pombal, no início da semana. Inês tinha mais dois irmãos, um rapaz de 14 anos e uma rapariga, de 23.
