Politécnicos lançam concurso para 200 mil máscaras. Fatura da covid-19 pode custar "milhões" em propinas de alunos estrangeiros. Reitores avisam que é preciso reforço.
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Só um número residual de estudantes do Ensino Superior volta a ter aulas presenciais este mês. Na maioria das universidades ou politécnicos, o ensino à distância vai manter-se até fim do semestre. As instituições respondem de forma tímida ao apelo do Governo, que pediu ao setor para serem "um exemplo" para o país no processo de retoma. As exceções serão práticas laboratoriais, projetos de investigação, serviços de apoio como bibliotecas ou secretarias e algumas aulas práticas.
As universidades da Beira Interior, Évora, Nova de Lisboa, Politécnico de Viseu ou Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto devem ser das primeiras a retomar aulas presenciais nas cadeiras mais práticas. São exceções, garantem reitores e presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP). Na Universidade de Lisboa, por exemplo, as primeiras aulas presenciais só devem acontecer no fim do mês a algumas cadeiras de Medicina Dentária. Na maioria dos politécnicos, as aulas práticas só devem voltar em junho.
"Há situações muito díspares", assegura o presidente do Sindicato do Ensino Superior (Snesup), Gonçalo Velho, que culpa o ministro Manuel Heitor pela resposta "completamente descoordenada" das instituições. "É cada um por si", alerta, garantindo que há reitores que nos planos de regresso não preveem a distribuição de máscaras a docentes. A fatura da covid-19, estima Gonçalo Velho, pode ser de "milhares de euros" quanto à compra de máscaras mas atingir "milhões de euros" em perdas por propinas de estudantes estrangeiros ou projetos de investigação. Só a Universidade de Lisboa pode perder 750 mil euros com as restrições do Estádio Universitário.
25 mil euros por dia
Os politécnicos uniram-se e devem lançar, na próxima semana, o concurso para aquisição de máscaras, viseiras ou desinfetantes. "Só máscaras devem ser entre 150 a 200 mil", admite o presidente do CCISP, Pedro Dominguinhos, que acredita que o Governo encontrará nos fundos comunitários forma de os apoiar.
As universidades, que reúnem com Manuel Heitor dia 12, ainda não pediram reforço de verbas. "Estão mais preocupadas em cooperar com o país", frisa o presidente do conselho de reitores (CRUP), Fontainhas Fernandes. Mas, em setembro, quando o regresso às aulas presenciais for em pleno, as contas terão de ser outras, alerta o reitor da Universidade de Lisboa, António Cruz Serra.
A UL, que contou com "doações de universidades chinesas" para o primeiro regresso faseado, também irá fazer testes de despistagem e serológicos mas, em setembro, "com 50 mil estudantes, pelo preço mais baixo do mercado atualmente, seriam cerca de 25 mil euros por dia em máscaras. Impossível de sustentar". O problema, argumenta Fontainhas Fernandes, é que "não bastam máscaras". Será preciso reforçar os serviços de limpeza ou perceber se algumas aulas presenciais se justificam para estudantes estrangeiros ou deslocados como das ilhas. "É uma mudança brutal de comportamentos. Nem nos podemos juntar à volta da máquina do café. Há pais que me pedem para adiar calendário, outros concordam com o regresso", admite.
Mudanças
Porto cria subsídio
A Universidade do Porto criou um subsídio de emergência - uma prestação única de 350 euros - para dar resposta a quem enfrenta os efeitos da pandemia como o desemprego. Foi criada uma época especial de exames no início de setembro para estudantes estrangeiros ou deslocados.
100 computadores
A Universidade do Minho criou um programa informático para os estudantes sem acesso ao ensino à distância. Foram entregues cerca de 100 computadores e 50 equipamentos de acesso à Internet.
Exames em auditórios
Além de máscaras obrigatórias, o distanciamento também terá de ser garantido. Cada caso será analisado consoante o número de estudantes, mas pode haver exames que terão de ser feitos em auditórios ou pavilhões gimnodesportivos.
Horários e circuitos
A febre pode ser medida. As turmas divididas e os horários reorganizados, admitindo-se aulas noturnas e ao sábado. Haverá circuitos específicos assinalados no chão.