Sondagem: Marques Mendes aproveita queda de Gouveia e Melo e conquista liderança. Seguro em terceiro. Cotrim já ameaça Ventura
Análise de Rafael Barbosa e gráficos de Inês Moura Pinto
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Há uma reviravolta na corrida às eleições presidenciais. Apesar de o equilíbrio ser a nota dominante, Luís Marques Mendes sobe (22,6%) e ultrapassa Henrique Gouveia e Melo (21,1%), que regista uma quebra acentuada na mais recente sondagem da Pitagórica para o JN, TSF, TVI e CNN. Os dois primeiros estão em empate técnico e mantêm António José Seguro, que segue em terceiro lugar, a curta distância (17,4%). A maior subida entre outubro e novembro foi a de João Cotrim Figueiredo (12,6%), que já ameaça o quarto lugar de André Ventura (14,7%). À Esquerda, e apesar da melhoria de Catarina Martins (4,4%), o cenário é sombrio, com António Filipe nos 2,5% e Jorge Pinto com 1,4%.
O trabalho de campo da sondagem decorreu entre 5 e 14 de novembro, coincidindo com a polémica gerada pelo lançamento de um livro com uma longa entrevista ao almirante, que resultou numa polémica envolvendo o atual presidente da República e em que o candidato social-democrata aproveitou para atacar o que descreveu como "contradições" e "disparates" do adversário. Coincidência ou não, o ponto e meio de vantagem de Gouveia e Melo sobre Marques Mendes, em outubro, converteu-se numa desvantagem de quase sete pontos, em novembro.
Empate técnico no primeiro lugar
Note-se, no entanto, que nenhum deles consegue muito mais do que uma em cada cinco intenções de voto, o que resulta de uma grande dispersão do voto, quando faltam apenas dois meses para as eleições (marcadas para 18 de janeiro). Estão, portanto, em empate técnico, ao ponto de, tendo em conta a margem de erro, o antigo chefe da Marinha poder chegar a ter quase quatro pontos de vantagem, se considerarmos o intervalo máximo da sua previsão (23,7%) e o mínimo do antigo líder do PSD (20%). Sucede que a inversa é igualmente possível: Marques Mendes chegar aos 25,2% e Gouveia e Melo cair para os 18,5%.
Se isso acontecer, as notícias são ainda piores para o candidato independente, uma vez que o intervalo máximo de António José Seguro, que até perdeu um ponto relativamente a outubro, chega aos 19,8%, ou seja, na luta pelo segundo lugar, e pela passagem a uma segunda volta, também se regista um empate técnico. Nesta altura da corrida, e quando se inicia precisamente esta segunda-feira uma longa maratona de debates, são estes os únicos três concorrentes com números que permitem sonhar com uma segunda volta. Acresce que, nos cenários para uma segunda volta, que a sondagem testou, há igualmente mudanças significativas relativamente a outubro.
Equilíbrio não se aplica à Esquerda
São três os candidatos favoritos, mas o equilíbrio é um dos destaques desta sondagem. Basta ter em conta estes números: entre o primeiro e o quinto classificados de outubro havia uma diferença de 18 pontos percentuais. Um mês depois, são apenas dez pontos. Isto porque o líder do Chega, André Ventura, melhora ligeiramente o seu resultado (mais oito décimas, para 14,7%), mas sobretudo porque o ex-líder liberal João Cotrim Figueiredo regista a maior subida do barómetro (mais três pontos e meio, para 12,6%), talvez beneficiando da proximidade entre o arranque dos inquéritos e a apresentação da candidatura (3 de novembro). Feitas as contas, é um empate técnico na luta pelo quarto lugar.
Daqui para baixo, e concretamente para os candidatos mais à Esquerda, as notícias são menos positivas. É verdade que a bloquista Catarina Martins dá um salto razoável de dois pontos e meio no espaço de um mês, mas fica-se, ainda assim, pelos 4,4%. O comunista António Filipe estacionou nos mesmos 2,5% que marcava há cerca de um mês, enquanto Jorge Pinto, o deputado do Livre, que se juntou à corrida a 1 de novembro, não consegue melhor do que 1,4%.
Mendes a Norte, Gouveia e Melo a Sul
Há outras pistas significativas que apontam para o relativo equilíbrio entre os cinco primeiro classificados. Quando se analisam os resultados de cada um dos segmentos da amostra (género, idade, classe social e geografia), quase todos eles podem cantar vitória, mesmo que parcial. Luís Marques Mendes e Henrique Gouveia e Melo lideram em seis segmentos cada um.
O social-democrata destaca-se em particular na Região Norte (mais dez pontos do que o segundo), nos que têm melhores rendimentos (mais seis pontos do que Cotrim Figueiredo), entre as mulheres (é, aliás, o candidato com um maior desequilíbrio de género) e, finalmente nas faixas etárias dos 18/24 anos (em que o segundo é Ventura), 45/54 anos (à frente de Seguro) e nos que têm 65 ou mais anos.
O almirante lidera entre os que vivem no Sul e ilhas (por quase sete pontos) e na região de Lisboa (três pontos sobre o candidato liberal), mas também entre os mais pobres (com o líder do Chega no encalço) e na classe média, na faixa etária dos 35/44 anos (com Cotrim outra vez em segundo) e entre os homens (com mais dois pontos e meio que Ventura).
Ventura melhor nos mais pobres
António José Seguro só está na frente em dois segmentos da amostra: entre os que têm 55/64 anos (seis décimas sobre Mendes) e entre os que vivem na Região Centro (três pontos sobre o social-democrata). João Cotrim Figueiredo só leva vantagem na faixa etária dos 25/34 anos (mas são mais seis pontos do que Mendes), enquanto André Ventura, como já se percebeu, não vence em nenhum dos segmentos, mas soma vários segundos lugares, sendo o candidato com um maior peso de voto masculino e conseguindo o seu melhor resultado parcial entre os mais pobres (20,9%).
Relativamente aos três candidatos à Esquerda, os resultados são sempre bastante mais magros, mas conseguem sobressair de alguma forma em alguns dos segmentos: Catarina Martins é a mais feminina e chega aos 13% na faixa etária dos 35/44 anos; António Filipe ultrapassa a sua média em Lisboa e sobretudo nos que têm 25/34 anos (5,2%); Jorge Pinto dobra a sua média geral no conjunto do Sul e das ilhas.
Almirante transversal nos partidos
Num cenário em que o número de indecisos sofreu uma quebra acentuada (são agora 12,7% face aos 17,3% de outubro), é também reveladora a forma como cada um dos candidatos mais cotados consegue captar o voto das legislativas. Um dos que melhor segura o eleitorado do partido de onde é originário é Marques Mendes, com 38,9% dos eleitores que escolheram Luís Montenegro para primeiro-ministro a manterem a coerência partidária. Vai também buscar um pouco mais de um décimo dos eleitores socialistas de maio.
André Ventura é quem consegue manter o maior número de fiéis (48,6% dos eleitores do Chega), mas tem sérias dificuldades no resto do espetro partidário. Ao contrário, António José Seguro só consegue captar um terço dos que votaram no PS (33,9%), mas consegue uns razoáveis 18,2% entre os que votaram em todos os restantes partidos. Henrique Gouveia e Melo é o candidato mais transversal, mas o maior destaque vai para o facto de convencer um em cada quatro eleitores do PS (26,1%). O seu pecúlio compõe-se com 17,5% dos que votaram na AD, 14,6% dos que escolheram o Chega e 15,2% dos eleitores de todos os restantes partidos.
Ficha técnica
Sondagem realizada pela Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF e JN com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com as eleições presidenciais de 2026. O trabalho de campo decorreu entre os dias 5 e 14 de novembro de 2025. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores recenseados em Portugal e foi devidamente estratificada por género, idade e região. Foram realizadas 1906 tentativas de contacto, para alcançarmos 1000 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 52,47%. As 1000 entrevistas telefónicas recolhidas correspondem a uma margem de erro máxima de +/- 3,16% para um nível de confiança de 95,5%. A distribuição de indecisos é feita de forma proporcional. A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará para consulta online.

