Ninguém assume autoria do inquérito em Cabeceiras de Basto, no qual perguntam ainda se têm filhos e se estão empregados. ERC recebeu queixa.
Corpo do artigo
Desde janeiro que alguns residentes de Cabeceiras de Basto estão a ser surpreendidos com uma chamada para o telefone fixo da residência. Tendo como pretexto um estudo de opinião, para as autárquicas deste ano, a chamada termina com questões de índole pessoal. Ninguém assume a autoria da sondagem, mas a Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) já recebeu uma queixa e a GNR diz que vai "ficar atenta".
Várias pessoas testemunharam ao JN que a chamada demora "cerca de 10 minutos" e as perguntas começam por assuntos de política local. Se é "filiado em algum partido" e, se fosse agora, "quem escolheria como presidente da Câmara", entre os nomes de Joaquim Barreto, presidente da Assembleia Municipal, deputado e líder da Distrital do PS; Francisco Alves, atual presidente de Câmara, do PS; Jorge Machado, vereador e líder do movimento Independentes Por Cabeceiras (IPC); e Manuel Teixeira, candidato já anunciado pelo PSD. Outra das perguntas prende-se com a "avaliação, de 0 a 10, da prestação de Francisco Alves". Depois destas questões surgem, normalmente, mais três que causam estranheza. "Quantos filhos tem? Os filhos estão desempregados? Como se chama?".
Partidos estranham
Uma sondagem "estranha", que nenhum partido em Cabeceiras de Basto assume ter encomendado e que já motivou uma queixa do PSD junto da ERC, que tutela a credenciação para aquele trabalho. "O PSD é alheio e até já apresentou queixa", assumiu ao JN André Gustavo, líder da Concelhia do partido. Para o social-democrata, a situação é típica de "uma forma de atuação do poder socialista local" porque, explica, "ao perguntarem pelos filhos, se estão ou não desempregados e o nome, é uma forma de saberem para irem bater à porta para condicionar".
André Gustavo aponta as autárquicas de 2017 para denunciar que "nessa altura abriu uma fábrica de volantes que empregou cerca de 200 pessoas, mas fechou passados dois anos. Em Cabeceiras, em ano de eleições, há sempre empregos temporários e estágios na Câmara e empresas municipais, é uma forma de condicionamento", disse.
Domingos Machado, líder do PS local, nega a génese da sondagem. "O PS de Cabeceiras de Basto não tem nenhum processo desses em andamento. Tanto em 2013 como em 2017, o movimento IPC foi a principal força da oposição, mas o líder Jorge Machado também recusa responsabilidade na sondagem. "Não temos nada a ver com isso. A ser verdade, e já ouvi pessoas a falarem disso, há a prática de algo que é ilegal e que mexe com a privacidade das pessoas", defendeu, considerando "algo muito grave".
O atual autarca cabeceirense também se demarca da encomenda. "Obviamente que não. Desconheço a forma e o modo do eventual estudo de opinião", referiu ao JN. Sobre as afirmações do líder do PSD, Francisco Alves não querer tecer nenhum comentário. Já sobre a oferta de estágios em empresas municipais em ano eleitoral, nomeadamente na Basto Vida, garante que "foi apenas realizada uma candidatura a um estágio".
Eleições
Presidente recandidato em "processo pacífico"
O atual presidente da Câmara, o socialista Francisco Alves, já foi convidado e está disponível para se candidatar a um novo mandato. "Já me foi formulado o convite pelo presidente da Concelhia do PS e pela Distrital, e manifestei disponibilidade", assumiu ao JN Francisco Alves. Domingos Machado, líder da Concelhia, garante que se trata de um "processo pacífico" porque "se o presidente achar que tem condições, e eu acho que tem, será esse o caminho a trilhar. Existe uma diretiva da direção nacional de recandidatura dos atuais presidentes e isso será pacífico".
A reter
GNR sem queixas
Contactada pelo JN, fonte da GNR garantiu que não há registo de qualquer queixa. Promete atenção ao caso.
Anonimato na lei
Sondagens ou estudos de opinião são tutelados pela ERC e as empresas que os realizam têm de garantir o anonimato, conforme resulta da Lei n.o 10/2000 de 21 de junho, na alínea c) do artigo 4.º. "Deve ser preservado o anonimato das pessoas inquiridas, bem como o sentido das suas respostas", lê-se.
ERC não reage
Instada pelo JN a pronunciar-se sobre a queixa do PSD, a ERC não reagiu em tempo útil.